São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2008

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CLÓVIS ROSSI

"Desaceleraflação"

SÃO PAULO - O horrível título acima pode ser um bom resumo do futuro próximo da economia brasileira. No resto do mundo, mais de um analista já sacou do coldre a palavra "estagflação", essa nefanda combinação de paralisia econômica com inflação alta.
No Brasil, estagnação parece fora do horizonte; neste ano, com toda a certeza. O impulso do ano passado e dos primeiros cinco meses de 2008 asseguram, ao que tudo indica, um crescimento razoável, eventualmente inferior ao de 2007, mas, de todo modo, um crescimento de bom tamanho. De bom tamanho para a sabedoria convencional.
Eu sou dos que acreditam, como uma meia dúzia de economistas não-ortodoxos, que bom tamanho para o Brasil é 7%, por aí. Mas somos claramente minoritários, quase solitários.
Para 2009, no entanto, a perspectiva é realmente de desaceleração com inflação. Daí o título.
Para manter a inflação sob controle, ou para reduzi-la, é necessário desacelerar a economia. No caso, é uma receita ortodoxa, clássica até. Mas, como não tenho visto receita heterodoxa capaz de oferecer uma alternativa, que seja feita a vontade da maioria.
O problema parece ser quanto de desaceleração é necessário para manter a inflação no centro da meta fixada pelo governo (4,5%). Ninguém sabe ao certo. Até porque a inflação é meio atípica desta vez. A dos ricos e remediados gira em torno de 5,5%, dentro da meta, embora acima do centro dela. A dos mais pobres (até dois mínimos) está em 8,5%. Pesada demais.
O sentido comum manda proteger os mais pobres. O instinto político-eleitoral do governo também. Mas a brecada necessária para que a inflação não continue a machucá-los pode aleijá-los, pelo corte do emprego.
Bem-feitas as contas, o cenário parece pedir mais que o piloto automático utilizado até agora.


crossi@uol.com.br

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