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CLÓVIS ROSSI
"Desaceleraflação"
SÃO PAULO - O horrível título
acima pode ser um bom resumo do
futuro próximo da economia brasileira. No resto do mundo, mais de
um analista já sacou do coldre a palavra "estagflação", essa nefanda
combinação de paralisia econômica
com inflação alta.
No Brasil, estagnação parece fora
do horizonte; neste ano, com toda a
certeza. O impulso do ano passado e
dos primeiros cinco meses de 2008
asseguram, ao que tudo indica, um
crescimento razoável, eventualmente inferior ao de 2007, mas, de
todo modo, um crescimento de
bom tamanho. De bom tamanho
para a sabedoria convencional.
Eu sou dos que acreditam, como
uma meia dúzia de economistas
não-ortodoxos, que bom tamanho
para o Brasil é 7%, por aí. Mas somos claramente minoritários, quase solitários.
Para 2009, no entanto, a perspectiva é realmente de desaceleração
com inflação. Daí o título.
Para manter a inflação sob controle, ou para reduzi-la, é necessário desacelerar a economia. No caso, é uma receita ortodoxa, clássica
até. Mas, como não tenho visto receita heterodoxa capaz de oferecer
uma alternativa, que seja feita a
vontade da maioria.
O problema parece ser quanto de
desaceleração é necessário para
manter a inflação no centro da meta fixada pelo governo (4,5%). Ninguém sabe ao certo. Até porque a
inflação é meio atípica desta vez. A
dos ricos e remediados gira em torno de 5,5%, dentro da meta, embora
acima do centro dela. A dos mais
pobres (até dois mínimos) está em
8,5%. Pesada demais.
O sentido comum manda proteger os mais pobres. O instinto político-eleitoral do governo também.
Mas a brecada necessária para que a
inflação não continue a machucá-los pode aleijá-los, pelo corte do
emprego.
Bem-feitas as contas, o cenário
parece pedir mais que o piloto automático utilizado até agora.
crossi@uol.com.br
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