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RUY CASTRO
Mortes paralelas
RIO DE JANEIRO - Na manhã de
26 de dezembro de 1929, o ilustrador Roberto Rodrigues, filho do jornalista Mario Rodrigues, foi baleado por uma mulher na redação do
jornal "Crítica". Seria a manchete
natural para todos os vespertinos
cariocas naquele dia. Só que, na
mesma hora, perto dali, o deputado
pernambucano Souza Filho foi
morto a tiros na Câmara Federal
pelo seu colega da oposição, o gaúcho Simões Lopes.
A morte do político governista já
refletia a tensão que, meses depois,
levaria à Revolução de 1930. Portanto, Souza Filho foi a manchete,
não Roberto -até mesmo no jornal
do pai deste. Claro que, com Roberto também morto dali a dois dias,
"Crítica" passaria os meses seguintes dando sua foto na primeira página e exigindo justiça. Conto essa
história no meu livro "O Anjo Pornográfico", sobre o irmão de Roberto, Nelson Rodrigues.
No dia 22 de dezembro de 1940, o
escritor americano Nathanael West
morreu em um acidente de carro.
Não era famoso -ninguém dera bola para seus livros, um deles "O Dia
do Gafanhoto". De qualquer maneira, os jornais não teriam muito espaço para West. Na véspera, morrera em Hollywood seu amigo F. Scott
Fitzgerald, para quem a imprensa
estava abrindo páginas.
A 22 de novembro de 1963, Aldous Huxley morreu em Los Angeles. Era um totem do pensamento
moderno. Mas deu a pouca sorte de
que, poucas horas antes, o presidente John Kennedy fosse assassinado em Dallas. Os jornais quase o
ignoraram.
E, nesta quinta, a estrela Farrah
Fawcett perdeu sua batalha contra
o câncer. Sua bravura passará despercebida, porque ela morreu no
mesmo dia que Michael Jackson. É
cruel, mas isso nos poupará de vê-la
decaída. Na fantasia dos homens,
Farrah será sempre aquela suma de
olhos, dentes e cabelos que iluminou os anos 70 em fotos e na TV.
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