São Paulo, domingo, 27 de junho de 2010

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Objetivo sensato

É desejável reduzir a meta de inflação, mas no momento certo, com poucos custos para a atividade econômica

O Conselho Monetário Nacional manteve a meta de inflação para 2012 em 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima e para baixo. Em relação aos países que adotam o regime de metas, formal ou informalmente, a do Brasil está entre as mais altas. O padrão internacional fica entre 2% e 3%.
No momento de adoção desse sistema, em 1999, o governo chegou a fixar metas decrescentes ano a ano, que chegariam a 3,25% em 2003. Mas essa estratégia foi abandonada em razão da instabilidade da economia no período. Desde 2005 vigora a meta atual. De lá para cá os resultados foram positivos -a média da inflação anual pelo IPCA, o índice oficial, ficou em 4,7%.
Assim, para alguns já estaria na hora de reduzir a meta para 4% e também de estreitar o intervalo de tolerância. A relutância em fazê-lo seria uma evidência da crença do governo na ultrapassada tese de que um pouco mais de inflação gera um pouco mais de crescimento.
A defesa da redução da meta se baseia principalmente na ideia de que a credibilidade já conquistada pelo Banco Central levaria imediatamente os agentes econômicos a reduzir as expectativas de inflação para a nova meta.
Em sendo este o caso, a desinflação poderia ocorrer sem a necessidade de juros mais altos e, portanto, sem reflexos negativos no ritmo da atividade econômica. Além disso, a inflação ainda próxima a 5% contribui para preservar mecanismos de indexação.
São argumentos válidos, mas há outras considerações possíveis. A primeira é que a correspondência entre expectativas e meta não é perfeita. Há evidências de que as expectativas respondem fortemente à inflação passada mesmo em países onde o Banco Central tem elevada credibilidade, o que aponta para o peso da inércia no processo de determinação dos preços.
A consequência é que certamente haverá custos para a atividade econômica, mesmo que temporários, em perseguir uma meta mais baixa. Este custo, difícil de identificar a priori, precisa ser considerado em cada momento. Seria mais fácil reduzir a meta quando a inflação corrente e as expectativas estivessem abaixo dela. Foi o que ocorreu em 2006, quando o IPCA variou 3,14%. Mas a oportunidade foi perdida.
Além disso, se a inflação mais alta reforça a indexação, o oposto também é verdadeiro, especialmente no Brasil, que preserva alguns anacronismos. Por exemplo, preços importantes, como os aluguéis, ainda seguem o IGP, índice altamente influenciado pela taxa de câmbio e por preços no atacado. Por fim, a economia brasileira é pouco competitiva em muitos setores e sofre com alta tributação e má gestão fiscal. São todos fatores que pressionam a inflação, a despeito da meta -e pouco ou nada se modificaram nos últimos anos.
É desejável perseguir uma inflação mais baixa com o menor custo possível. Mas é preciso engenho e arte, além de ações em outras áreas, para que a redução da meta seja feita no momento certo, sem gerar problemas e turbulências.


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