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Editoriais
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Objetivo sensato
É desejável reduzir a meta de inflação, mas no momento certo, com poucos custos para a atividade econômica
O Conselho Monetário Nacional
manteve a meta de inflação para
2012 em 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima e para baixo. Em
relação aos países que adotam o
regime de metas, formal ou informalmente, a do Brasil está entre as
mais altas. O padrão internacional
fica entre 2% e 3%.
No momento de adoção desse
sistema, em 1999, o governo chegou a fixar metas decrescentes
ano a ano, que chegariam a 3,25%
em 2003. Mas essa estratégia foi
abandonada em razão da instabilidade da economia no período.
Desde 2005 vigora a meta atual.
De lá para cá os resultados foram
positivos -a média da inflação
anual pelo IPCA, o índice oficial,
ficou em 4,7%.
Assim, para alguns já estaria na
hora de reduzir a meta para 4% e
também de estreitar o intervalo de
tolerância. A relutância em fazê-lo
seria uma evidência da crença do
governo na ultrapassada tese de
que um pouco mais de inflação gera um pouco mais de crescimento.
A defesa da redução da meta se
baseia principalmente na ideia de
que a credibilidade já conquistada
pelo Banco Central levaria imediatamente os agentes econômicos a
reduzir as expectativas de inflação
para a nova meta.
Em sendo este o caso, a desinflação poderia ocorrer sem a necessidade de juros mais altos e,
portanto, sem reflexos negativos
no ritmo da atividade econômica.
Além disso, a inflação ainda próxima a 5% contribui para preservar mecanismos de indexação.
São argumentos válidos, mas
há outras considerações possíveis. A primeira é que a correspondência entre expectativas e meta
não é perfeita. Há evidências de
que as expectativas respondem
fortemente à inflação passada
mesmo em países onde o Banco
Central tem elevada credibilidade, o que aponta para o peso da
inércia no processo de determinação dos preços.
A consequência é que certamente haverá custos para a atividade econômica, mesmo que temporários, em perseguir uma meta
mais baixa. Este custo, difícil de
identificar a priori, precisa ser
considerado em cada momento.
Seria mais fácil reduzir a meta
quando a inflação corrente e as expectativas estivessem abaixo dela.
Foi o que ocorreu em 2006, quando o IPCA variou 3,14%. Mas a
oportunidade foi perdida.
Além disso, se a inflação mais
alta reforça a indexação, o oposto
também é verdadeiro, especialmente no Brasil, que preserva alguns anacronismos. Por exemplo,
preços importantes, como os aluguéis, ainda seguem o IGP, índice
altamente influenciado pela taxa
de câmbio e por preços no atacado. Por fim, a economia brasileira
é pouco competitiva em muitos setores e sofre com alta tributação e
má gestão fiscal. São todos fatores
que pressionam a inflação, a despeito da meta -e pouco ou nada
se modificaram nos últimos anos.
É desejável perseguir uma inflação mais baixa com o menor custo
possível. Mas é preciso engenho e
arte, além de ações em outras
áreas, para que a redução da meta
seja feita no momento certo, sem
gerar problemas e turbulências.
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