São Paulo, Domingo, 27 de Junho de 1999
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O mangue e o Banespa

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Os admiradores de FHC na mídia exultaram com a tardia demonstração de valentia no caso do Banespa. Criticado injusta e perfidamente por não ser capaz de tomar decisões e assumir responsabilidades, o presidente mostrou que é macho pra burro: numa só penada demitiu toda a diretoria do banco estatal de São Paulo.
Lembro uma história que corria aqui pelo Rio no tempo da guerra. Também acusavam Getúlio Vargas de indecisão e ambiguidade, ele não se definia nem a favor dos aliados nem dos alemães, ia levando. Timidamente, nascia uma espécie de oposição que acabaria por forçá-lo a entrar na briga.
Foi nesse ponto que Roosevelt mandou fechar o canal do Panamá, para impedir que os navios de Hitler passassem de um oceano a outro. Mirando-se em exemplo de tamanha valentia, Vargas mandou fechar o canal do Mangue, aqui no Rio, provavelmente para impedir que um couraçado nazista chegasse à praça 11 e bombardeasse as gafieiras ali existentes.
Garantem que o próprio Vargas foi quem mais gostou da piada. Ele tinha humor para isso, frequentava os teatros da praça Tiradentes para ver Pedro Dias e Oscarito imitarem seu modo gaúcho de falar e seu jeito malandro de dar rasteiras.
Ao demitir a diretoria do Banespa, o presidente da República mandou fechar, a seu modo e em sua circunstância, o canal do Mangue que não escoa suficientemente a água estagnada de sua administração pastosa e cada vez menos transparente.
Não tenho elementos para avaliar o mérito da demissão, dou de barato que tenha sido necessária e justa. A vigorosa penada que mostrou a machidão presidencial equivale ao caso anedótico do Mangue. Essa mesma machidão não se manifesta naquilo que realmente interessa.
O caso mais recente foi o da Polícia Federal. Mais antigo que esse, e bem mais comprometedor, é o do esclarecimento definitivo do dossiê Cayman.


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