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De novo
EM REUNIÃO com políticos e
intelectuais realizada na semana passada em Pernambuco, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva voltou à cantilena
entoada no auge da crise do mensalão. "Não pensem que o erro de
cada um é individual ou partidário. O que acontece são os acúmulos de deformações que vêm
da estrutura política do nosso
país", pontificou o presidente.
Trata-se de uma variante da
célebre afirmação segundo a
qual o PT teria feito, do ponto de
vista eleitoral, "o que é feito sistematicamente no país". A essa
altura, o mínimo a esperar do
candidato à reeleição seriam
propostas objetivas para coibir a
corrupção. Em vez disso, tem-se
de novo a mesma e genérica insistência numa reforma política,
vendida como emplastro capaz
de curar todos os males.
É um equívoco supor que os escândalos de corrupção ocorridos
nesta legislatura teriam sido evitados caso houvesse fidelidade
partidária ou financiamento público de campanha. Como atestam os episódios do mensalão e
dos sanguessugas, o loteamento
político e indiscriminado das estatais e a permeabilidade de legisladores aos interesses de empresas privadas são as mais flagrantes "deformações" da estrutura política vigente. Mas não é a
elas que se refere o presidente.
Em vez de acenar com a drástica redução dos cargos de livre
provimento e criar condições para a profissionalização administrativa e controle público das estatais, a principal medida para o
setor foi reforçar a barganha política: os Correios, por exemplo,
foram entregues ao PMDB como
forma de acomodar conveniências de aliança partidária.
É sintomático que o equívoco
tenha sido cometido na mesma
empresa onde se originaram as
denúncias do mensalão. A corrupção não apenas nada ensinou
ao governo como ainda encontra
terreno fértil para prosperar.
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