São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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CARLOS HEITOR CONY

De autores e frases

RIO DE JANEIRO - Uma frase atribuída a Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do regime nazista, foi repetida por Celso Amorim numa reunião internacional e provocou constrangimentos: "Mentir, mentir, que sempre fica alguma coisa". O leitor Fabrizio Wrolli enviou carta ao "Painel" perguntando em qual historiador, e em que livro, há referência à frase.
Não tenho elementos para esclarecer o leitor, de qualquer forma, é possível que Goebbels a tenha dito. Contudo, a frase não é original. Foi pronunciada bem antes do advento do nazismo por Voltaire, um dos totens do Iluminismo, e tinha como alvo a Igreja Católica, que ele chamava de infame: "Écrasez l'ìnfâme". Voltaire recomendava: "Caluniai, caluniai que ficará alguma coisa".
É possível, também, que a frase não seja de Voltaire, mas atribuída a ele por historiadores católicos. Periodicamente, surgem coisas assim, e o leitor acima citado lembra o caso de De Gaulle, que nunca disse que o Brasil não era um país sério. Mas a frase ficou sendo dele.
Já comentei a mania de se atribuir o "Navegar é preciso" a Fernando Pessoa. O pessoal mais recente prefere citar Caetano Veloso ou Ulysses Guimarães como autores do conceito que, por sinal, é lema da Liga Hanseática. Li a frase gravada numa ponte de pedra que dá acesso a Lübeck, cidade em que nasceu Thomas Mann.
Qualquer almanaque informa que a frase foi pronunciada por Pompeu. Dividindo o poder com César, que andava pelas Gálias, Pompeu enfrentou uma crise no abastecimento em Roma. Pompeu comandou uma esquadra para buscar alimentos no norte da África. Com os navios abarrotados, os tripulantes se amotinaram, temendo enfrentar o mau tempo no Mediterrâneo. Pompeu os incentivou: navegar é preciso.


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