São Paulo, terça-feira, 27 de julho de 2010

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MARCOS NOBRE

Serra vai queimar FHC

O alinhamento eleitoral se completou. Serra moveu-se para a direita -segundo a mesma coreografia do contragosto que costuma executar nessas ocasiões. Dilma pretende continuar na moita -idealmente, até o segundo turno, se não houver como evitá-lo.
É comum ouvir que Serra tem de carregar o fardo da impopularidade dos anos FHC.
Mas não se costuma ouvir o quanto essa herança ajuda a candidatura de Serra. E, para tirar Dilma da toca, Serra terá de queimar sem piedade o capital acumulado pela marca FHC.
A hegemonia tucana dos anos FHC foi construída sobre os slogans da "responsabilidade" e da "confiabilidade". É esse o branding da aliança demo-tucana, é o seu principal patrimônio eleitoral.
A ideia, claro, sempre foi a de fazer do polo petista o lugar da "irresponsabilidade". E nisso pelo menos a força demo-tucana se faz sentir até hoje. Mesmo depois de oito anos de governo, o PT continua atemorizado pela ideia de não parecer "confiável".
Um negativo disso aconteceu no único episódio até agora em que a campanha de Dilma saiu da defensiva: quando tentou colar em Serra a intenção de acabar com o Bolsa Família. A resposta do candidato simplesmente desnorteou a campanha governista. Serra trucou e retrucou: disse que dobraria o número de famílias atendidas pelo programa. Aí veio uma espantosa e inesperada reação da campanha de Dilma: essa não seria uma proposta realista e factível! O slogan de campanha de Serra parece anódino -"O Brasil pode mais". Mas pode bem não ser. Serra começa a dizer com todas as letras que o governo Lula é tímido. Que Dilma é uma candidata sem ideias novas, sem visão de futuro. Que, como no caso de sua proposta de ampliação do Bolsa Família, é possível "fazer muito mais". Na saúde, na educação e na segurança, principalmente.
Perguntado sobre os recursos para implantar sua proposta relativa ao Bolsa Família, Serra recorreu ao velho truque do quanto o país paga de juros. Basta pagar menos juros.
Nisso, só faz seguir na trilha aberta pela atuação demo-tucana no episódio recente do aumento do salário mínimo pelo Congresso. A oposição "confiável" e "responsável" ajudou a derrotar o projeto de Lula e a aprovar um aumento maior e mais extensivo. E jogou o resultado nas costas do próprio Lula, que acabou sancionando um aumento que dizia antes ser impossível.
Serra não tem nada a perder senão a eleição. Vai queimar todo o estoque de "confiabilidade" herdado dos anos FHC.
Sem medo de ser tachado de "irresponsável" ou "populista". Afinal, "isso é coisa do PT".


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.

nobre.a2@uol.com.br


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