São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 2011

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Interesses em jogo

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) confirma uma contribuição de ao menos R$ 50 milhões de dinheiro público do Estado para o futuro estádio do Corinthians, alcunhado de "Itaquerão". Junta-se, assim, à prefeitura e à União.
O despejo de verbas de todos os governos na construção de arenas para a Copa do Mundo é condenável, ainda mais diante de repetidas promessas de que isso não seria feito. Sempre se alegou que o investimento privado bancaria o certame e que só teria vantagens para o contribuinte brasileiro.
No caso da cidade de São Paulo, a arena a ser erguida na zona leste, em parceria da construtora Odebrecht com o clube, contará com incentivos da prefeitura, financiamento do BNDES (ou seja, da União) e desembolsos do governo paulista.
A prefeitura contribui com isenções fiscais de até R$ 420 milhões, na forma de Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento, títulos que permitem abater tributos como IPTU e ISS. A empreiteira pode negociar esses papéis, que terão validade só à medida que as obras ficarem prontas, para se financiar.
O município alega que tais incentivos serão compensados pelo desenvolvimento da zona leste, uma das mais carentes da cidade -uma promessa por verificar. Até lá, a realidade será a de um rombo na arrecadação paulistana.
O financiamento do BNDES, que o governo federal qualifica como mero empréstimo, se dá em condições mais favoráveis que as do mercado. Serão R$ 400 milhões, quando a operação for oficializada; estima-se que, ao longo de 15 anos, a diferença entre o que o governo paga para captar o dinheiro e o que cobra para emprestar fique em até R$ 150 milhões.
A verba do governo estadual será para ampliar a capacidade do estádio de 48 mil lugares para mais de 65 mil e, assim, atender exigência da Fifa. Alckmin argumenta que a estrutura, temporária, tem como objetivo garantir a abertura da Copa em São Paulo.
É, de toda forma, um claro recuo do governador diante do compromisso anterior de não pôr dinheiro estadual no estádio particular. O ano da Copa será também de eleição para presidente e governador, e Alckmin não quer carregar o fardo de ser responsabilizado pela perda do jogo inaugural.
Só falta comprovar quais serão as recompensas reais desses gastos para quem paga a conta com impostos. O benefício imaterial de receber a partida de abertura, inegável, parece ainda muito aquém dos dividendos auferíveis pelas três esferas de governo em sociedade com os dirigentes do clube e a empreiteira que elegeram.


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