São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 2002

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O CHOQUE SOCIAL

O amálgama que une os diversos grupos humanos no Brasil, constituindo a sociedade nacional, a cada dia que passa apresenta mais pontos de tensão, de fragilidade. Duas décadas de estagnação econômica e de manutenção de brutal concentração de renda inevitavelmente cobram seu preço em termos de desagregação social, de violência e de revolta. Numa cidade como São Paulo, a classe média restringe ao estritamente necessário (serviços domésticos, por exemplo) os contatos com a massa urbana mais pobre, que habita as periferias.
Nesse ambiente, em que gerações de classes diferentes atingem a maioridade por vezes sem nunca terem convivido, é que se dão algumas iniciativas, pontuais, de tentar romper esse muro de segregação. Foi o caso dos alunos de classe média alta de uma escola particular de São Paulo que passaram cinco dias numa favela da cidade, como parte de um projeto pedagógico.
Experiências de choque social como essas são positivas porque os preconceitos mútuos que um setor guarda em relação ao outro são postos a prova. E muitas vezes não resistem, dando lugar a uma percepção mais realista dos problemas.
A solidariedade não é um conceito apenas moral, desgarrado do ambiente em que se travam as relações sociais concretas. A constituição de uma sociedade mais harmônica no Brasil, portanto, não depende apenas da boa vontade de grupos isolados em quebrar tabus. Para que se conquiste o objetivo, essas ações devem ser coordenadas e aproveitadas no contexto de uma política pública de desenvolvimento humano, com grande ênfase na melhoria do acesso a educação de alta qualidade.


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