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Sem segredo
O PRESIDENTE da Câmara
dos Deputados, Aldo Rebelo (PC do B-SP), anunciou que pretende levar a plenário agora no início de setembro a
PEC (proposta de emenda constitucional) que acaba o voto secreto para parlamentares. Se o
dispositivo for aprovado, ganhará a democracia brasileira.
Há razões, contudo, para acreditar que Rebelo esteja sendo excessivamente otimista. Existem,
no momento, 20 medidas provisórias e seis projetos de lei com
urgência constitucional a trancar a pauta da Câmara. Se, num
ano normal, tal acúmulo já seria
um obstáculo formidável à votação de qualquer matéria nova,
num período eleitoral a tarefa
parece ainda mais difícil.
Embora num passado remoto,
no qual o Legislativo era um mero apêndice homologador das
decisões do imperador ou do ditador de turno, o instituto do voto secreto em plenário fizesse
sentido, esse deixou de ser o caso
nas democracias modernas. Parlamentares já não correm perigo
por não ter votado de acordo
com o interesse dos governantes.
O que a experiência recente
ensina é que o voto secreto se
tornou uma licença para o parlamentar trair os interesses da população, um manto que acoberta
os mais inconfessáveis interesses corporativistas, como se vê,
no caso do mensalão, pela absolvição de 11 dos 14 deputados cujos processos foram a plenário.
O festival de impunidade
ameaça repetir-se na próxima legislatura, à medida que forem
avançando os processos abertos
contra os envolvidos na máfia
dos sanguessugas.
É preciso acabar o mecanismo
das votações secretas. Ainda que
por vezes o clamor público não
seja o melhor conselheiro, parlamentares são representantes da
população. Nada justifica que
possam agir sem prestar contas
de cada um de seus atos.
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