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Sem pressa
MUITO BARULHO por quase
nada. Essa é uma boa
descrição da nova reforma ortográfica que o Brasil cogita implementar já a partir do ano
que vem.
Sob a justificativa de unificar a
grafia de todos os países lusófonos, foi celebrado, em 1990, o
Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa. Na prática, o que o
tratado faz é eliminar um pequeno número de consoantes mudas
ainda escritas em Portugal ("óptimo", "adopção"), sepultar o
trema e promover algumas poucas mudanças nas regras de
acentuação e do uso de hífen.
Parece pouco. E, em termos
qualitativos, de fato o é. Só que,
para proceder às modificações,
será preciso empenhar uma
energia desproporcional. Entre
as providências necessárias destacam-se a atualização de todos
os professores e alfabetizadores
do país e a revisão de todo o material didático, para ficar nos
itens mais custosos.
Tal esforço parece bem maior
do que os ganhos potenciais do
acordo. Nunca foi o "p" de "óptimo" nem as demais minudências
da reforma que dificultaram a intercomunicação entre leitores e
escritores dos dois lados do
Atlântico. Se há barreiras lingüísticas, dizem respeito à escolha das palavras e a expressões
idiomáticas, fatores culturais
que estão ao abrigo das iniciativas dos reformadores.
Para tornar a situação mais
complicada, Portugal dá sinais
de que não está mais disposto a
seguir com a reforma. Ainda não
ratificou o protocolo modificativo do acordo nem tem planos de
fazê-lo. Há rumores de que Lisboa pode introduzir uma cláusula de reserva, desobrigando o
país europeu de implantar a mudança em prazo definido.
Nesse contexto, não faz muito
sentido que o Brasil comece a
mover fundos para unificar sua
grafia com a de Cabo Verde e São
Tomé e Príncipe, os dois países
que, como o Brasil, já poderiam
implementar o acordo.
Antes de embrenhar-se na terceira reforma ortográfica em
menos de um século (já as houve
em 1943 e 1971), é preciso ao menos ter certeza de que Portugal
irá segui-la, ou o ganho potencial, que já é pequeno, praticamente desaparecerá.
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