São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2008

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CLÓVIS ROSSI

O besouro e o crédito

SÃO PAULO - Diz-se do besouro que não pode voar, pela sua aerodinâmica. No entanto voa. Daria para dizer a mesma coisa sobre o crédito no Brasil: na teoria, o aumento dos juros deveria derrubar a demanda por crédito. Na prática, o crédito voa -ou alcança um recorde após o outro. Em julho, chegou ao nível máximo desde que começaram a ser coletados os dados pelo Banco Central.
É mais fácil explicar por que a demanda por crédito continua subindo, apesar do aumento do custo do dinheiro, do que explicar por que o besouro voa: brasileiro não leva em conta o nível dos juros, mas o valor da prestação. Se cabe no bolso, pega dinheiro, mesmo pagando mais.
É verdade que são as pessoas jurídicas que estão buscando mais crédito -e, em tese, elas, sim, levam em conta a taxa de juros. De todo modo, fica evidente que o aquecimento da economia tende a se manter, na medida em que o crédito é um dos combustíveis mais importantes para o consumo.
Logo, é igualmente evidente que se torna mais e mais ingrata a tarefa do Banco Central de derrubar a demanda via aumento dos juros.
O que, por sua vez, significa que soa bem provável a previsão da grande maioria dos economistas de que os juros continuarão subindo e subindo. "Uma Selic [taxa de referência do BC] de 14,75% em dezembro é muito provável, assim como sua manutenção por uns quatro a seis meses, entrando em 2009", escreve, por exemplo, José Francisco de Lima Gonçalves, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP e economista-chefe do Banco Fator, para o número mais recente do boletim da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, também da USP.
Vai acabar levando a inflação para o centro da meta em 2009. Mas, acrescenta Lima Gonçalves, "o custo será a redução do crescimento do PIB de 5% para 3,5%".
É um bom negócio?

crossi@uol.com.br



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