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ELIANE CANTANHÊDE
Isso, sim, é Estado
BRASÍLIA - Nunca antes neste
país se viu crise de tamanha proporção na Receita Federal. O que as
dezenas de "renunciantes" reclamam é da ingerência política num
órgão essencialmente técnico. De
Estado, não do governo de plantão.
Na Petrobras, onde há histórias
mal contadas e contas mal somadas, o corporativismo não se armou
para defender a empresa de ingerências externas e partidárias. Ao
contrário, sucumbiu a elas, numa
simbiose que gerou todo um aparato para reações iradas -não contra
os que querem tomá-la de assalto,
mas contra os que os denunciam.
No Banco do Brasil, houve uma
guerra surda entre funcionários de
carreira e sindicalistas oportunistas, e o governo foi obrigado a desocupar o que tinha ocupado indevidamente: praticamente todas as diretorias e todas as chefias de órgãos
e fundações vinculados. O final foi
favorável. Por enquanto...
A Receita não repete a Petrobras
nem o BB. Nem prevalece o corporativismo partidário, nem guerras
surdas. A reação é pública e faz barulho. O que vale não é a voz do partido, da conveniência pessoal, do
oportunismo político, do amém a
tudo o que seu mestre mandar lá do
Planalto e que sua mestra mandar
lá do palanque. O interesse público
prevalece sobre o partidário.
Só isso justifica que quadros dentre o que há de melhor na administração pública abdiquem de cargos,
títulos, vantagens e digam um sonoro "não". Uma Lina Vieira sozinha não seria capaz de tanto. Uma
corporação sólida e invulnerável a
"patrões" provisórios é.
É isso o que se espera de um país
sério e democrático. Que seus funcionários não apenas estejam acima de qualquer suspeita e que a máquina de fiscalização e eventual punição esteja azeitada mas que tenham consciência do seu papel e
não se deixem subjugar.
A Receita se transforma num paralelo com empresas estatais e com
o Congresso. No Senado, pode tudo.
Na Receita não. Ali não se revoga o
que é irrevogável.
elianec@uol.com.br
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