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RUY CASTRO
Fuga para o vencedor
RIO DE JANEIRO - Em 1984, quando se estabeleceu que Tancredo Neves e Paulo Maluf disputariam a
presidência no Colégio Eleitoral
(formado pelos deputados e senadores), o quadro parecia óbvio.
Tancredo atrairia os democratas, os
patriotas, os que queriam o Brasil
de volta para fazer dele um novo
país. Com Maluf ficariam as raposas, os fantasmas da velha ordem,
os oportunistas, os que se locupletaram com os militares no poder.
Ou seja, Tancredo atrairia o voto
ideológico; Maluf, o fisiológico. E,
como o Congresso já era então um
viveiro de fisiológicos, não seria
surpresa se Maluf vencesse.
Mas, em poucas semanas, quando ficou claro que o povo, esgotado
por 21 anos de ditadura, queria respirar, eles decidiram que Tancredo
deveria ganhar. Donde deu-se a
maciça migração de votos. A 15 de
janeiro de 1985, Tancredo foi eleito
por massacrantes 480 votos contra
180 de Maluf. O que acontecera? O
Colégio Eleitoral ficara súbita e corajosamente ideológico?
Não, era o contrário. Os fisiológicos é que abandonaram seu mentor
e se grudaram naquele que despontava como vitorioso. A equação se
invertera. Com Maluf, ficaram os
malufistas sinceros e radicais -logo, ideológicos. Já Tancredo assimilou todos os demais: as raposas,
os fantasmas da velha ordem, os
oportunistas etc., assim como já assimilara José Sarney como seu vice.
O mesmo está acontecendo hoje,
com a diferença de que a eleição é
direta. Ao sentir o vento soprar para
Dilma Rousseff, pessoas que normalmente estariam ao lado de José
Serra têm se esmerado no contorcionismo a fim de se aproximarem
da candidata de Lula. É a fuga para
o vencedor. A cada ponto conquistado nas pesquisas, Dilma terá
mais dinheiro, comícios, palanques, siglas e aliados do que Serra.
A Serra, no dia 3 de outubro,
restará contar os amigos que lhe
restaram -os que não se juntaram
à hemorragia.
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