São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Valorizando os avanços

GERALDO ALCKMIN

Uma imagem recorrente na literatura sobre eleições é a do copo com água pela metade, representando as realizações de um governo. Para a oposição, o copo está meio vazio, como a indicar que o governo fez pouco ou nada. Para a situação, o copo está meio cheio, indicando que o governo está fazendo, está progredindo, avançando.
Essa visão dicotômica alimenta o argumento central das campanhas. Mas o exagero na visão negativa tem prejudicado o eleitor. Quase sempre ele é levado a rejeitar o avanço gradativo, o progresso contínuo, a melhoria passo a passo, em troca de propostas mágicas, radicais, que mudem "tudo que está aí".
O problema é que, no governo, como na vida comum, não há mágica. Não se progride de uma hora para a outra. A melhora, o progresso, sempre é fruto de decisões tomadas muito tempo antes de os benefícios começarem a aparecer. E de providências tomadas todos os dias, com disciplina, com tenacidade e, principalmente, com clareza a respeito dos rumos a serem seguidos.
O dilema dos governos é que, muitas vezes, o governante sabe que semeou certo, mas não sabe se a colheita chegará a tempo. O público, como é natural, avalia os resultados, não as intenções nem projetos que estão em andamento e ainda não amadureceram. A consequência natural disso tem sido, muitas vezes, a valorização da interrupção e da mudança, e não a dos avanços.
A eleição deste ano, aqui em São Paulo, no entanto, mostra um eleitor mais amadurecido e menos vulnerável a propostas de soluções mágicas, a slogans vazios ou a aventuras "mudancistas" genéricas, não amparadas na realidade.
O eleitor paulista, na verdade, parece estar valorizando os avanços, o caminho sério, a idéia de que não existe solução simples e rápida para problema complexo. Por mais impaciente que o eleitor esteja, em São Paulo ele sabe que o caminho mais rápido para o retrocesso é o da demagogia e da simplificação.
Nos últimos anos, São Paulo mudou. Há oito anos, nesta mesma época, na véspera da eleição de 94, o noticiário mostrava um Estado sem dinheiro para pagar funcionários ou para a gasolina dos carros de polícia. Com uma dívida crescente, alimentada por déficits orçamentários anuais superiores a 20% e por juros de mercado. Pior, na sua trajetória rumo à falência, São Paulo estava arrastando o Banespa e a Nossa Caixa, ambos dependentes do redesconto do Banco Central para fechar suas contas.
São Paulo mudou muito nesses oito anos. E está mudando todos os dias. Para melhor. O governador Mário Covas fez o trabalho de gigante de salvar o Estado, sanear as contas públicas, impor austeridade, honestidade e respeito. Fez os alicerces das mudanças. Recuperada a capacidade de investimento, iniciou as reformas na saúde, na educação, na segurança, nas estradas, no metrô.


A eleição deste ano mostra um eleitor mais amadurecido e menos vulnerável a propostas de soluções mágicas


Quando assumi, há um ano e sete meses, a maior tarefa era consolidar esses avanços, não permitir que se voltasse atrás, nem nos aspectos administrativos -que o eleitor não vê, mas acaba sentindo-, nem nas obras e projetos em execução. Mais do que não deixar a peteca cair, o importante era manter o padrão de administração e o progresso duramente conseguido em todas as áreas. Sem vaidade. Sem personalismo. Pensando no interesse público em primeiro lugar e sempre.
Nos próximos quatro anos, se o povo de São Paulo me escolher, entendo como minha missão preservar tudo o que foi conquistado e avançar mais. Nesta campanha, divulguei exaustivamente minhas prioridades, resumidas em quatro grandes áreas: emprego, educação, programas sociais e serviços públicos de qualidade, no padrão Poupatempo. No âmbito estadual, vamos nos esforçar, com empenho cada vez maior, na guerra contra a violência e o crime.
Na saúde, o esforço será pela ampliação e humanização do atendimento, além de melhor coordenação e utilização dos recursos. Na educação, a melhoria da qualidade do ensino e o reconhecimento de que é aí que está a oportunidade dos brasileiros. Nos programas sociais, a ação de solidariedade.
Mas o próximo período também vai colocar São Paulo no centro de uma série de escolhas que o Brasil terá de fazer. Estado líder, tenho certeza de que seremos a força motriz das reformas que os brasileiros almejam. São Paulo é locomotiva, não é vagão. É um Estado que anda na frente. Já deu exemplos ao Brasil de como se devem fazer as coisas.
Tenho certeza de que fiz uma campanha equilibrada, sem promessas mirabolantes, apontando os caminhos e, principalmente, mostrando que um Estado, um país, um povo progride quando avança passo a passo. Uma campanha que mostrou que o discurso é importante como manifestação de intenções, mas não substitui a prática. E que os chamados "planos de governo", que brotam miraculosamente nos períodos eleitorais, não substituem nem cancelam a realidade.
Valorizar os avanços, apostar neles e melhorar todos os dias, com trabalho duro e seriedade, reconhecendo os desacertos e os reveses, revelou-se, para mim, o argumento certo. Que respeita a inteligência e a sensibilidade do eleitor. O copo não está meio cheio nem meio vazio. Está em permanente processo de enchimento e esvaziamento. A luta, para todos nós, é fazê-lo com conteúdo suficiente, de boa qualidade e bem distribuído. A mudança é na intensidade da ação, para encher o copo.

Geraldo Alckmin, 48, médico, é governador do Estado de São Paulo e candidato à reeleição pelo PSDB.


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