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São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

O xis do problema

RIO DE JANEIRO - O ministro Palocci não é o primeiro a descobrir a pólvora, declarando que o Brasil, afinal, está pronto para crescer. Com outras palavras, e há mais tempo, um escriba português chamado Pero Vaz Caminha disse a mesma coisa, colocando apenas uma condição para o crescimento do país: "em se plantando".
Em corrente contrária -e bota contrária nisso- foi feita uma advertência (aliás estúpida) de que uma vitória de Lula em eleição passada provocaria o êxodo dos empresários nacionais, que iriam se transferir, e transferir seus investimentos, para outras praças, pois ninguém seria besta de confiar num partido de barbudos, de comedores de criancinhas e estupradores de freiras, essas coisas.
Acontece que o PT chegou ao poder, um PT desfigurado, é certo, cuja decantada transparência se resume na centralização de uma cúpula partidária que optou por continuar a mesma política do governo anterior, criando condições privilegiadas ao capital especulativo e chutando a problemática social (fome, desemprego, segurança) para a própria sociedade.
O crescimento de um país não é, nunca será, uma questão contábil, um "deve & haver" para aqueles guarda-livros de antigamente, que usavam uma viseira de celulóide verde e passavam a vida escriturando cifras e cifrões em enormes livros empoeirados.
Com a informática, os livros e as viseiras verdes perderam sustância, foram substituídos por computadores e arquivos digitalizados, mas a mentalidade contábil continua a mesma. A economia precisa ir bem, ficar arrumada, pasteurizada pelo FMI.
E o resto, ou seja, o país inteiro, que fique dependendo da boa vontade dos investidores dispostos a lucrar pouco ou a nada lucrar, crescendo vegetativamente, na base aritmética, enquanto o capital globalizado cresce organicamente, na base geométrica.
O ministro tem razão: o Brasil está pronto para crescer. Há mais de 500 anos.



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