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CARLOS HEITOR CONY
O xis do problema
RIO DE JANEIRO - O ministro Palocci não é o primeiro a descobrir a pólvora, declarando que o Brasil, afinal,
está pronto para crescer. Com outras
palavras, e há mais tempo, um escriba português chamado Pero Vaz Caminha disse a mesma coisa, colocando apenas uma condição para o crescimento do país: "em se plantando".
Em corrente contrária -e bota
contrária nisso- foi feita uma advertência (aliás estúpida) de que
uma vitória de Lula em eleição passada provocaria o êxodo dos empresários nacionais, que iriam se transferir, e transferir seus investimentos,
para outras praças, pois ninguém seria besta de confiar num partido de
barbudos, de comedores de criancinhas e estupradores de freiras, essas
coisas.
Acontece que o PT chegou ao poder,
um PT desfigurado, é certo, cuja decantada transparência se resume na
centralização de uma cúpula partidária que optou por continuar a mesma política do governo anterior,
criando condições privilegiadas ao
capital especulativo e chutando a
problemática social (fome, desemprego, segurança) para a própria sociedade.
O crescimento de um país não é,
nunca será, uma questão contábil,
um "deve & haver" para aqueles
guarda-livros de antigamente, que
usavam uma viseira de celulóide verde e passavam a vida escriturando cifras e cifrões em enormes livros empoeirados.
Com a informática, os livros e as viseiras verdes perderam sustância, foram substituídos por computadores e
arquivos digitalizados, mas a mentalidade contábil continua a mesma. A
economia precisa ir bem, ficar arrumada, pasteurizada pelo FMI.
E o resto, ou seja, o país inteiro, que
fique dependendo da boa vontade
dos investidores dispostos a lucrar
pouco ou a nada lucrar, crescendo
vegetativamente, na base aritmética,
enquanto o capital globalizado cresce
organicamente, na base geométrica.
O ministro tem razão: o Brasil está
pronto para crescer. Há mais de 500
anos.
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