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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Panorama ampliado

MILÚ VILLELA

Um museu é um espaço cultural por onde devem desfilar as principais tendências da arte universal. É um templo de exposições onde vamos contemplar, muitas vezes de forma interativa, os clássicos e as experimentações da cultura mundial. Desde os seus primórdios, o museu sempre foi e sempre será um território sem fronteiras, onde os mais diferentes países dialogam artisticamente, espelham-se, revigoram-se nesse saudável intercâmbio que está sempre a nos mostrar que, muito além de todas as ideologias, a arte é um espelho de toda a humanidade.
Estar à frente de um museu é ter consciência desse imenso manto linguístico que envolve todos os países numa cultura universal, em que arquétipos ancestrais e pulsões contemporâneas se misturam e se tornam manifestações artísticas, sussurrando-nos que todo homem é o homem todo.
A arte brasileira sempre teve forte vocação internacional. Essa tendência está cada vez mais presente nos dias de hoje, em que vivemos rodeados por um cenário artístico multicultural, marcado pela desfronteirização de linguagens e países.


Nossa forma de criar é sempre inovadora; às vezes demolidora e desconcertante, mas sempre lúdica e vigorosa


O Museu de Arte Moderna de São Paulo, um dos espaços culturais brasileiros mais sintonizados com a experimentação artística contemporânea, resolveu apostar ainda mais nessa vocação internacional dos criadores brasileiros. Estamos sempre rearrumando, desconstruindo, reorganizando de uma maneira muito especial e até mesmo subvertendo estruturas rigorosas preestabelecidas. É o que nos torna mais brasileiros e, ao mesmo tempo, mais universais.
Uns falam na irreverência antropofágica da nossa cultura, outros apontam a nossa maneira macunaímica de viver. O fato é que nossa forma de criar é sempre inovadora; às vezes demolidora e desconcertante, mas sempre lúdica e vigorosa.
Está em cartaz no MAM a mostra Panorama 2003, com muitas novidades que podem chocar os mais puristas. Pela primeira vez desde a sua criação, em 1969, a Panorama não incluiu apenas artistas brasileiros, abrindo espaço para estrangeiros que têm afinidade com a nossa maneira tão única de criar. Também pela primeira vez a curadoria é assinada por um profissional de outro país, o cubano Gerardo Mosquera, que trabalha no New Museum, em Nova York.
Trata-se de uma guinada inusitada na realização da Panorama. O que está em cartaz não é uma exposição enciclopédica, que pode acabar se tornando uma tediosa feira de trabalhos heterogêneos. Panorama 2003 é uma tentativa de mergulhar no processo criativo do brasileiro num momento em que o mundo todo vive essa rica experiência que é a desfronteirização de culturas.
Desde 1994, quando assumi a presidência do Museu de Arte Moderna de São Paulo, estamos modernizando esse maravilhoso edifício redesenhado por Lina Bo Bardi, situado no coração do parque Ibirapuera, projeto de Oscar Niemeyer que se tornou a grande opção de lazer do paulistano.
Modernizar, sem jamais esquecer a participação fundamental do público. E o público do MAM não pára de crescer. Modernizar e buscar novas formas de gerenciamento para um museu, tendo sempre em mente que estamos administrando um espaço que é do público e que também pertence às mais diferentes tendências da cultura.
A mostra Panorama 2003 é mais um passo nesse longo caminho que se renova a cada dia. Trata-se até mesmo de um repensar dos espaços de exibição do próprio MAM. São ao todo 19 artistas que espalharam suas obras pelos mais diferentes locais do museu.
Nossa intenção é fazer do MAM um espaço de cultura e lazer em sintonia total com as vibrações contemporâneas do mundo em que vivemos.

Milú Villela, 57, empresária, é presidente do Faça Parte-Instituto Brasil Voluntário, do MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e do Instituto Itaú Cultural.


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