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Tropa de elite
Apelo do governo fluminense ao Exército é compreensível, mas uso da Força Nacional seria mais adequado em conflitos como os do Rio
Os complexos de favelas da Penha e do Alemão, na zona norte do
Rio de Janeiro, são apontados por
especialistas e autoridades como
as principais cidadelas do narcotráfico na cidade. Ocupá-las de
maneira permanente, restituindo
à sociedade o território controlado
pelas quadrilhas de narcotraficantes, é uma etapa crucial -e
provavelmente a mais desafiadora- da atual política de segurança
do governo fluminense.
Ao que tudo indica, a recente
onda de vandalismo, com arrastões, assaltos e automóveis incendiados em diversos pontos da cidade, precipitou uma batalha
que, em condições normais, as autoridades teriam preferido deixar
para uma etapa posterior.
O sucesso inicial da implantação de UPPs (Unidades de Polícia
Pacificadora) em áreas antes tomadas por grupos armados determina, também, as condições da
atual operação de cerco a marginais naquelas comunidades. Não
é mais aceitável a antiga prática
policial de invadir bairros pobres,
matar criminosos e inocentes e bater em retirada.
Uma fração do complexo da Penha, a Vila Cruzeiro, foi ocupada
nesta semana. É preciso que a representação do Estado, por meio
de forças policiais e serviços, uma
vez expulsos os bandidos, lá se estruturem e permaneçam -sob pena de perder-se o apoio angariado
com a operação.
Faltam, no entanto, homens e
equipamentos em quantidade suficiente para conciliar a expansão
da polícia comunitária em favelas
com novas incursões de perseguição a traficantes.
É o que tornou indispensável o
apoio das Forças Armadas, requisitado pelo governo do Rio. Além
de blindados cedidos pela Marinha, cerca de 800 soldados do
Exército foram ontem deslocados
para as imediações do complexo
do Alemão. Sua tarefa é controlar
os acessos às favelas e restringir a
movimentação dos traficantes.
Atuações desse tipo estão previstas na legislação brasileira. O
recurso às Forças Armadas no
combate ao crime dentro do país
pode ser feito "em atribuições
subsidiárias" e em intervenções
"episódicas", por tempo limitado.
O apelo emergencial ao Exército nesta semana no Rio de Janeiro
é mais do que compreensível. Mas
há fortes motivos para evitar que
as Forças Armadas se envolvam
em operações típicas de polícia no
combate ao tráfico.
São graves os riscos provocados
pelo contato diuturno com o crime
organizado. Não se pode excluir a
possibilidade de que as quadrilhas, que lograram corromper parte da polícia, exerçam efeito semelhante sobre a hierarquia militar.
As consequências de uma eventual contaminação desse tipo podem ser desastrosas.
Diante de tal ameaça, é urgente
transformar a Força Nacional de
Segurança Pública em corpo permanente. Essa espécie de PM federativa é integrada sobretudo
por policiais cedidos por governos
estaduais, mobilizados em emergências. Apesar de já contar com
um contingente fixo, ainda falta
muito para transformá-la em uma
tropa de elite atuante.
É preciso fazê-lo.
Seria o recurso apropriado para
apoiar a atual estratégia de segurança no Rio -e intervir em situações análogas, sempre que necessário, em território nacional.
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