São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Energia livre

MUITO se tem falado, nos últimos meses, do risco de novo racionamento no setor elétrico. Com o passar do tempo, torna-se claro que a ameaça paira só sobre parcela dos consumidores de energia.
O momento oferece um teste significativo para o modelo elétrico implantado após 2003. Com ele passou a operar um mercado livre, no qual se comercializa a eletricidade que excede os contratos de longo prazo entre geradoras e distribuidoras.
Com energia sobrando, o preço despencou no mercado livre. Bateu em R$ 61 por megawatt-hora (MWh) em 2005. Um desconto de 44% diante dos R$ 109 pagos no mercado cativo. Houve corrida de grandes consumidores ao mercado "spot". Contava com 34 participantes em 2004, cifra que saltou para 598 em 2006. Compensava, e muito, abandonar o porto seguro das distribuidoras.
A energia já não sobra em demasia, e os preços galgaram o patamar de R$ 80/MWh, em 2006. Entusiastas do mercado livre enfrentam dificuldades crescentes para fechar contratos de fornecimento a partir de 2009. O pânico com a perspectiva de disparada futura no custo da eletricidade mobilizou-os numa frente de pressão sobre o governo federal.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) determinou o expurgo, em cálculos de risco que afetam preços, de 3.000 MW de entrega duvidosa por termelétricas sem fornecimento de gás natural garantido. Vale dizer, menos energia para o mercado livre, onde se acirrará o desequilíbrio entre demanda e oferta.
Decerto que ao governo federal cabe garantir expansão da oferta de energia elétrica, condição para o crescimento da economia. No mais, deve observar cautela com casuísmos que possam implicar, disfarçadamente, subsídio do sistema a consumidores que muito já lucraram com preços módicos. Num mercado livre, quem especula também deve fazer provisões para o futuro.


Texto Anterior: Editoriais: Descrédito absoluto
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: O relatório do apocalipse
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.