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SÉRGIO MALBERGIER
O bem que Lula faz ao Brasil
QUANDO O o ainda esquerdista Luiz Inácio Lula da
Silva, então 57 anos, ganhou
a eleição de 2002, o dólar já havia
subido 61% no ano, batendo em R$
3,73. O risco-país tinha inchado
114% -a 1.765 pontos-, e a Bolsa,
despencado 28%, a 10 mil pontos.
Quatro anos depois, com novo
mandato garantido, a Bolsa chega
ao recorde de 43 mil pontos, o risco
cai a inéditos 198, e o dólar estanca
em R$ 2,15. O mercado não perdoa,
e os números não mentem: Lula
presidente faz bem ao Brasil.
Se, nos próximos quatro anos,
Lula não desviar muito da fórmula
nada inovadora de "pai dos pobres,
mãe dos ricos", estaremos em 2011
muito melhores que em 2003.
Os dados macroeconômicos
nunca estiveram tão bons, e por
mais que possam ser tributados ao
róseo cenário externo, é bom lembrar da ilimitada capacidade autodestrutiva deste grande país. Mas
Lula, auxiliado por Antonio Palocci
e Henrique Meirelles, soube conter
com sabedoria sexagenária a sanha
"esquerdista" de outros auxiliares.
E, para muito além dos superlativos econômicos, talvez a maior
conquista lulista tenha sido zerar a
perigosa conta política que o Brasil
tinha a acertar com nossa imensa
população miserável. Um governo
"socialista" era inevitável no injusto Brasil. E, olhando para a Venezuela e a Bolívia, é fácil concluir
que a conta está saindo barata.
O lado "esquerdista" de Lula restringe-se à elogiada intensificação
das transferências de renda aos
mais pobres, via programas sociais
e também priorizando aumentos
reais do salário mínimo -em detrimento do controle aéreo, por
exemplo. Sob Lula, a vexatória desigualdade social brasileira continuou vexatória, mas recuou mais
que sob seu antecessor.
Outro mérito: Lula no poder passa à população de baixa renda a
(falsa) impressão de que a democracia neste país funciona. Afinal,
um operário de pouca instrução
hoje comanda o Brasil e, na mão de
um bom marqueteiro, pode-se dizer que o faz em nome dos pobres.
A sombra da "esquerda" saiu dos
cálculos econométricos, barateando o crédito: é difícil agora vislumbrar uma força política anticapitalista chegando ao poder, ameaçando propriedades e contratos.
Não se está dizendo que Lula resolveu os problemas brasileiros
nem que seu governo merece nota
dez. Lula poderia ter feito muito
mais. Em todos os campos. Talvez
tenhamos até regredido na questão da corrupção. Mas, mérito ou
não de Lula, é inegável que há muito mais gente sendo investigada
hoje do que nos oito anos de FHC.
O que Lula fez, com certeza, foi
superar em muito a expectativa de
que iria implodir o Brasil. Pelo
contrário, avançamos.
SÉRGIO MALBERGIER é editor de Dinheiro . Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Antonio
Delfim Netto, que escreve às quartas nesta coluna.
smalberg@uol.com.br
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