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CADÁVER INSEPULTO
Não é novidade que opositores
do governo de George W.
Bush levantem a voz para dizer em
linguagem mais ou menos diplomática que a Casa Branca, na tentativa
de justificar a guerra no Iraque, mentiu ao sustentar que Saddam Hussein
possuía armas de destruição em
massa. As primeiras denúncias de
que os serviços secretos norte-americano e britânico estavam falseando
dados e os interpretando de forma
sabidamente deturpada datam de
antes da invasão. A novidade é que
agora já não são apenas opositores
de Bush que fazem essas acusações,
mas também antigos colaboradores.
Na semana passada, David Kay, o
inspetor-chefe de armas no Iraque,
designado para o cargo pelo próprio
governo norte-americano, renunciou ao posto afirmando que os temíveis arsenais de armas químicas e
biológicas não existiam no período
anterior à guerra. Para Kay, que foi
assessor da CIA e passou os últimos
meses vasculhando o Iraque em busca de provas, as armas de destruição
em massa foram destruídas em meados dos anos 90 sob monitoramento
da ONU. Desde então, não houve
tentativas sérias de reconstruir os arsenais. O ex-inspetor, é verdade, evitou culpar Bush pelos equívocos,
preferindo atribuir a responsabilidade pela falha aos serviços secretos.
As observações do ex-inspetor foram tão contundentes que o secretário de Estado dos EUA, general Colin
Powell, foi obrigado a admitir que as
armas de destruição em massa podem não existir. Antes da guerra, Powell foi à ONU onde fez uma apresentação para demonstrar que o Iraque possivelmente as possuía.
Em condições normais, as desinformações do período que antecedeu
a invasão talvez já tivessem sido esquecidas. A verdade é sempre a primeira vítima em qualquer guerra.
Mas, sendo este um ano eleitoral, as
mentiras pespegadas pela Casa
Branca deverão permanecer até novembro como um cadáver insepulto.
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