São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IGOR GIELOW

O poder de Dirceu

BRASÍLIA - José Dirceu está na plenitude de seu poder. Será interessante acompanhar como a sua promoção oficial a gerente da máquina ministerial será recebida por algumas áreas do governo. Não deverá haver problemas, por exemplo, na Educação pós-Cristovam Buarque. Mas mal colocou o crachá de superpoderoso, que, de todo modo, já guardava no bolso, e o chefe da Casa Civil falava em nome da Fazenda.
Dirceu apareceu ontem no Congresso. Reafirmando que só estava ali por cortesia, disse que a Fazenda é a favor do polêmico projeto que estende alguns benefícios da Zona Franca de Manaus à Amazônia Legal.
Ops. Até onde se sabe, a equipe econômica, com os liberais Marcos Lisboa (Secretaria de Política Econômica) e Joaquim Levy (Tesouro) à frente, não gosta de propostas que implicam renúncia fiscal. A assessoria de economia da bancada do PT, partido de Dirceu, condenou o projeto.
Antonio Palocci (Fazenda) demonstrou habilidade política, saindo-se com algo na linha ""apóio, mas vamos examinar". Até agora, circunscreveu o grosso das críticas à política econômica ao BC e alimentou o mito de que o presidente do órgão, Henrique Meirelles, é 100% independente. Fingiu que não perdeu a disputa pela chefia da Anatel e Lisboa ficou com a fama de derrotado.
Os entrechoques não são uma novidade. No começo do ano, quando Dirceu disse que o governo não mandaria o projeto de autonomia do BC para o Congresso, ele recuou. Mas na prática, e é isso o que interessa, ninguém acredita que a idéia vá vingar tão cedo. E todos ficam felizes.
Em público, Dirceu e Palocci vão sempre dizer que são Castor e Pollux, os irmãos da mitologia grega que, de tão inseparáveis, viraram a constelação de Gêmeos. Se serão Caim e Abel, dupla famosa por outros motivos, só o tempo dirá. O ex-premiê britânico Harold Wilson (1916-95) citava uma frase, na verdade do chinês Confúcio (c. 551-479 a.C.), que dizia que uma semana é muito tempo em política. Em Brasília, a semana tem três dias.


Texto Anterior: Madri - Clóvis Rossi: Histórias do Santander
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Marcelo Beraba: Cesar, Marta e Serra
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.