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FERNANDO RODRIGUES
URV do crescimento
BRASÍLIA - O caso Waldomiro Diniz está longe do fim, para desgosto dos
"spin doctors" governistas e da mídia
amiga. Uma porteira foi arrombada.
Dezenas de boatos, acusações e histórias escabrosas aparecem nos corredores do poder.
O governo Lula dividiu-se em AW e
DW. Nesta fase "depois de Waldomiro", muitos tomam coragem e contam o que antes era segredo.
É nítida a evanescência da força
política do Planalto. Para complicar
o cenário, Lula enfrenta também um
clima de pessimismo na economia.
O desânimo não decorre só da queda de 0,2% do PIB em 2003. Ou por
causa da taxa de desemprego, que
teima em derrubar as previsões panglossianas do presidente. O que ninguém enxerga em Brasília é inteligência e habilidade na equipe petista
para tirar o país do ciclo perverso e
lento da ortodoxia econômica.
Dentro do cânone liberal-ortodoxo
de Palocci, ninguém duvida de que o
Brasil terá uma moeda estável e crescimento sustentado daqui a 20 anos.
Ocorre que metade da população
morreria de inanição até lá.
É possível ser arrojado na ortodoxia. Quase sem saber a diferença entre porcentagem e pontos percentuais, o sociólogo FHC teve alguns
economistas brilhantes ao seu lado.
Criaram a URV em 1994. Trocaram a
roda do carro andando. Inventaram
uma moeda estável sem congelar
preços e caçar bois no pasto.
Quem é o técnico do médico Palocci
com capacidade para formular uma
"URV do crescimento"? Quem é capaz de manter a linha e o rumo da
ortodoxia -até porque há pouca ou
nenhuma alternativa a esse modelo- e fazer com que o país cresça o
que precisa, a jato? Não existe esse ser
humano no governo de Lula.
Numa espécie de "programa sofisticação zero" na economia, Palocci só
sabe receitar mais ortodoxia a cada
risco de inflação ou espirro mais forte
dos mercados. Além do já clássico
conselho de d. João 6º -"quando
não sabes o que fazer, não faças nada"-, emoldurado em todas as salas
do Ministério da Fazenda.
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