São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

URV do crescimento

BRASÍLIA - O caso Waldomiro Diniz está longe do fim, para desgosto dos "spin doctors" governistas e da mídia amiga. Uma porteira foi arrombada. Dezenas de boatos, acusações e histórias escabrosas aparecem nos corredores do poder.
O governo Lula dividiu-se em AW e DW. Nesta fase "depois de Waldomiro", muitos tomam coragem e contam o que antes era segredo.
É nítida a evanescência da força política do Planalto. Para complicar o cenário, Lula enfrenta também um clima de pessimismo na economia.
O desânimo não decorre só da queda de 0,2% do PIB em 2003. Ou por causa da taxa de desemprego, que teima em derrubar as previsões panglossianas do presidente. O que ninguém enxerga em Brasília é inteligência e habilidade na equipe petista para tirar o país do ciclo perverso e lento da ortodoxia econômica.
Dentro do cânone liberal-ortodoxo de Palocci, ninguém duvida de que o Brasil terá uma moeda estável e crescimento sustentado daqui a 20 anos. Ocorre que metade da população morreria de inanição até lá.
É possível ser arrojado na ortodoxia. Quase sem saber a diferença entre porcentagem e pontos percentuais, o sociólogo FHC teve alguns economistas brilhantes ao seu lado. Criaram a URV em 1994. Trocaram a roda do carro andando. Inventaram uma moeda estável sem congelar preços e caçar bois no pasto.
Quem é o técnico do médico Palocci com capacidade para formular uma "URV do crescimento"? Quem é capaz de manter a linha e o rumo da ortodoxia -até porque há pouca ou nenhuma alternativa a esse modelo- e fazer com que o país cresça o que precisa, a jato? Não existe esse ser humano no governo de Lula.
Numa espécie de "programa sofisticação zero" na economia, Palocci só sabe receitar mais ortodoxia a cada risco de inflação ou espirro mais forte dos mercados. Além do já clássico conselho de d. João 6º -"quando não sabes o que fazer, não faças nada"-, emoldurado em todas as salas do Ministério da Fazenda.


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