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CLÓVIS ROSSI
O neocoronel
SÃO PAULO - Na sua invencível capacidade de mudar
tudo para que tudo fique como está, o jogo político
brasileiro engoliu um "sapo barbudo" para cuspi-lo
como neocoronel.
É o que sobrou de Luiz Inácio Lula
da Silva, que nasceu como inovador.
A prova mais recente está nos dados
da pesquisa do Datafolha segundo os
quais a virada de Lula deve-se quase
exclusivamente aos que recebem
uma ou mais das bolsas-esmola, criadas no governo anterior e ampliadas
no atual.
O coronelismo, para ficar na versão
curta, é a fidelização de uma clientela por meio do fornecimento de
bens/serviços que deveriam ser obrigatórios, tipo dentadura, cadeira de
rodas, internação hospitalar. Na sua
versão mais crua, a versão Severino
Cavalcanti, é a intervenção para libertar bêbados da cadeia nos grotões
da pátria.
No neocoronelismo, saem dentaduras, entra o dinheiro e aumenta a escala. Mas o modelo é essencialmente
o mesmo: o da doação a quem não
tem nem condições nem oportunidades para obter uma renda minimamente decente. Não que seja criticável. Entre condenar à fome a massa
de brasileiros miseráveis e o assistencialismo, viva o assistencialismo.
Desde que não se pense que ele será
capaz, mesmo a longo prazo, de levar
os beneficiários à inclusão na economia e na sociedade.
Ideologia, Lula não tem. O pouco
que havia virou "bravata", segundo
ele próprio, e foi atirado à lata de lixo
da história. Partido também não
tem. Está "desmoralizado", sempre
segundo Lula. Virou máquina de eleger caciques, exatamente como os
muitos partidos coronelísticos que
ajudaram ou ajudam a perpetuar
oligarquias regionais.
Diz-se de esquerda, mas é o partido
favorito dos banqueiros, com muita,
mas muita folga. Paga a seus financiadores com juros que lhes proporcionam lucros recordes.
A cobertura do andar de cima só
pode rir à toa com seu "sapo barbudo" domesticado.
@ - crossi@uol.com.br
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