São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

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RICARDO YOUNG

O que falta?

As revoltas no mundo árabe representam uma reação à miséria e à opressão a que estas populações vêm sendo vítimas há séculos.
Excluídas da cidadania e dos avanços da chamada civilização, esses milhões de seres humanos cobram agora seus direitos por trabalho, bem-estar e dignidade. Mas que modelo de desenvolvimento pode dar respostas adequadas a essas demandas?
O mundo precisa de progresso econômico, sim, mas de um outro. Com inclusão social, equilíbrio ambiental, valores éticos e integridade. E, sobretudo, com a redução das desigualdades.
Desde 2006, as discussões vêm se aprofundando sobre uma nova economia. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lançou, na semana passada, seu mais recente estudo sobre o tema, chamado "Caminhos para uma economia verde".
A principal conclusão é que a transição para essa economia custaria 2% do PIB mundial, ou US$ 1,3 trilhão por ano. Segundo o Pnuma, equivale à quantia atualmente aplicada em subsídios a petróleo, agricultura e pesca, ainda muito pouco sustentáveis.
Assim, esse investimento precisa vir seguido de reformas políticas em nível nacional e internacional. "Tornar a economia verde não geraria apenas crescimento e renda em capital natural, mas também produziria maior crescimento do PIB e do PIB per capita. De acordo com as simulações do relatório, um cenário de investimento verde atingiria taxas de crescimento anual mais altas que o cenário habitual de negócios, em um espaço de tempo de cinco a dez anos".
"Esse crescimento econômico caracteriza-se por um desacoplamento significativo em impactos ambientais, com a pegada ecológica global sobre a taxa de biocapacidade podendo declinar do nível atual de 1,5 para menos de 1,2 até 2050 (...) em oposição a um aumento para 2, o que seria o caso do cenário habitual de negócios" (trechos transcritos do sumário de conclusões do relatório).
Na direção dessa iniciativa, algumas empresas líderes e o Instituto Ethos apresentaram, também na semana passada, a "Plataforma por uma economia inclusiva, verde e responsável". Elaborada de forma colaborativa num amplo processo de consultas e debates, ela reúne ideias para preparar a transição para essa nova economia no Brasil.
O objetivo não é apenas o de mudar o mercado, como também mobilizar a sociedade e os governos para o estabelecimento de marcos legais e de ações que garantam a transição para um outro modelo de desenvolvimento.
Trata-se, sim, de um objetivo audacioso. Mas como querer menos quando o que está em jogo é o futuro das próximas gerações?

RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.


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