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Abaixo o pessimismo!
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
A ciclotimia está se transformando
em traço de personalidade dos brasileiros. Nós, que sempre fomos reconhecidos como um povo alegre e esperançoso, nos últimos tempos estamos rodeados por tristeza e apreensão.
Em momentos de crise, precisamos
lembrar que uma nação é produto de
décadas e séculos. Quem olha para
horas e minutos são os especuladores.
Os que produzem e trabalham para
construir as suas famílias, medem o
tempo em gerações.
Os números da inflação e do desemprego, somados ao dólar sobrevalorizado e associados à boataria de feiticeiros internacionais que, é bom que
se diga, não têm nenhum compromisso com o Brasil, estão criando um clima de desânimo que não casa com as
potencialidades deste país.
É verdade que a recessão é profunda. O desemprego é crescente. A inflação ameaça voltar. Mas será que um
país tão grande e rico como o Brasil
está sem saída?
Nada disso. No meio dessa grande
tormenta, há vários sinais promissores. Vejam as perspectivas de exportação. No caso da agricultura, soja, café,
açúcar, frango e outras carnes despontam com grandes possibilidades
de venda no mercado externo. Isso vai
gerar muita renda para os produtores
e para os que nela trabalham. As cidades do interior serão ativadas por um
aumento de consumo e de empregos.
Para cada US$ 1 bilhão de exportação, estima-se a geração de 60 a 70 mil
empregos. Para a agricultura brasileira será fácil exportar uns US$ 3 bilhões adicionais, anualmente, e ao
longo dos próximos cinco anos. Isso
significa, aproximadamente, 1 milhão
de empregos, sem contar o efeito empregador da renda dos consumidores.
E, se passarmos as áreas irrigadas dos
6% atuais para 10%, a produtividade
agrícola subirá brutalmente, com resultados ainda mais positivos.
No setor industrial, as oportunidades de vendas internacionais são amplas para os metais, automóveis, papel, calçados, tecidos, sucos e vários
outros produtos. Se a indústria agregar outros US$ 3 bilhões de exportação, anualmente, ao longo dos próximos cinco anos, teremos também aí a
geração de mais 1 milhão de postos de
trabalho -sem contar, mais uma vez,
os empregos decorrentes da renda dos
empregados.
O Brasil não acabou. Precisamos
apenas de paciência para superar os
próximos três ou quatro meses que,
certamente, serão as mais difíceis da
crise atual.
Além disso, são necessários patriotismo, trabalho e juízo. Basta que nossas autoridades não criem obstáculos
às exportações, com tributação, confiscos e restrição de crédito.
Poucos países têm as condições do
Brasil para ser um abastecedor mundial de alimentos, lembrando que só a
China precisa importar 300 milhões
de toneladas de grãos por ano ao longo do próximo século!
Na semana passada, ao receber a visita do presidente de um grande banco estrangeiro que queria saber de onde vem a confiança de quem investe,
sugeri a ele que, em lugar de se ater a
estatísticas pouco confiáveis e prognósticos de ilusionistas, sobrevoasse o
interior de São Paulo, Paraná, Rio
Grande do Sul, Mato Grosso e outros
Estados para ver a pujança da nossa
agricultura e a organização da nossa
indústria. Essa é a sugestão que deixo
também aos meus leitores. Pessimistas de todo o Brasil, acordem!
Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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