São Paulo, Domingo, 28 de Fevereiro de 1999
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Abaixo o pessimismo!

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

A ciclotimia está se transformando em traço de personalidade dos brasileiros. Nós, que sempre fomos reconhecidos como um povo alegre e esperançoso, nos últimos tempos estamos rodeados por tristeza e apreensão.
Em momentos de crise, precisamos lembrar que uma nação é produto de décadas e séculos. Quem olha para horas e minutos são os especuladores. Os que produzem e trabalham para construir as suas famílias, medem o tempo em gerações.
Os números da inflação e do desemprego, somados ao dólar sobrevalorizado e associados à boataria de feiticeiros internacionais que, é bom que se diga, não têm nenhum compromisso com o Brasil, estão criando um clima de desânimo que não casa com as potencialidades deste país.
É verdade que a recessão é profunda. O desemprego é crescente. A inflação ameaça voltar. Mas será que um país tão grande e rico como o Brasil está sem saída?
Nada disso. No meio dessa grande tormenta, há vários sinais promissores. Vejam as perspectivas de exportação. No caso da agricultura, soja, café, açúcar, frango e outras carnes despontam com grandes possibilidades de venda no mercado externo. Isso vai gerar muita renda para os produtores e para os que nela trabalham. As cidades do interior serão ativadas por um aumento de consumo e de empregos.
Para cada US$ 1 bilhão de exportação, estima-se a geração de 60 a 70 mil empregos. Para a agricultura brasileira será fácil exportar uns US$ 3 bilhões adicionais, anualmente, e ao longo dos próximos cinco anos. Isso significa, aproximadamente, 1 milhão de empregos, sem contar o efeito empregador da renda dos consumidores. E, se passarmos as áreas irrigadas dos 6% atuais para 10%, a produtividade agrícola subirá brutalmente, com resultados ainda mais positivos.
No setor industrial, as oportunidades de vendas internacionais são amplas para os metais, automóveis, papel, calçados, tecidos, sucos e vários outros produtos. Se a indústria agregar outros US$ 3 bilhões de exportação, anualmente, ao longo dos próximos cinco anos, teremos também aí a geração de mais 1 milhão de postos de trabalho -sem contar, mais uma vez, os empregos decorrentes da renda dos empregados.
O Brasil não acabou. Precisamos apenas de paciência para superar os próximos três ou quatro meses que, certamente, serão as mais difíceis da crise atual.
Além disso, são necessários patriotismo, trabalho e juízo. Basta que nossas autoridades não criem obstáculos às exportações, com tributação, confiscos e restrição de crédito.
Poucos países têm as condições do Brasil para ser um abastecedor mundial de alimentos, lembrando que só a China precisa importar 300 milhões de toneladas de grãos por ano ao longo do próximo século!
Na semana passada, ao receber a visita do presidente de um grande banco estrangeiro que queria saber de onde vem a confiança de quem investe, sugeri a ele que, em lugar de se ater a estatísticas pouco confiáveis e prognósticos de ilusionistas, sobrevoasse o interior de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e outros Estados para ver a pujança da nossa agricultura e a organização da nossa indústria. Essa é a sugestão que deixo também aos meus leitores. Pessimistas de todo o Brasil, acordem!


Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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