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BALANÇO DO SONEGADOR
O sociólogo Herbert de Souza, o
Betinho, quer que as empresas sejam
legalmente obrigadas a publicar seu
balanço social -elas prestariam
contas do que fizeram em relação a
seus empregados, ao ambiente e à
cultura, por exemplo.
A discussão sobre a responsabilidade social das empresas ganha cada
vez mais espaço em todo o mundo e
é, inclusive, objeto de acordos de comércio internacional.
Nos EUA e na Europa, por exemplo,
há movimentos de boicote a bens
produzidos de forma danosa ao ambiente. Empresários que empregam
mão-de-obra infantil também são
pressionados. As leis e os acordos internacionais de comércio procuram
punir empresas e países que pratiquem o ``dumping social'' -o emprego de crianças e de trabalhadores
extremamente mal pagos, ou quase
escravizados, na produção.
Tais fatos indicam que a proposta
de Betinho se inscreve num quadro
mundial de civilização das relações
sociais. Mesmo no Brasil seu projeto
foi relativamente bem recebido por
empresários, segundo declarações
colhidas pela Folha. Algumas empresas brasileiras já se empenham em
publicar as atividades que vão além
do seu objetivo precípuo: produzir,
gerar lucros e empregos.
No entanto, a idéia da obrigatoriedade do balanço social talvez não
considere realidades empresariais,
políticas e mesmo fiscais do país.
Como ficaria a imagem de um empresário socialmente bem-intencionado, mas cuja empresa enfrenta dificuldades que o impedem de tomar
qualquer atitude que não seja a de
salvar o seu negócio da falência e
seus funcionários do desemprego?
De resto, no Brasil, o investimento
social é dificultado por problemas
que deveriam ser atacados antes de
se criar mais uma lei, a do balanço
social. Não se trata aqui de cobrar
apenas do Estado suas responsabilidades no setor: a questão é a sabida e
imensa sonegação fiscal no país.
Medidas que enfrentassem problemas dessa natureza talvez pudessem
levar mais água para o moinho das
políticas sociais.
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