São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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EMÍLIO ODEBRECHT

Delegar para crescer

O PARTIDO DA descentralização de gestão ainda é motivo de questionamentos e de incertezas por parte de administradores públicos e de empresas privadas. Não deveria ser assim.
No serviço público, sua adoção resultaria em um atendimento de melhor qualidade à população, porque haveria mais clareza quanto aos responsáveis, a base que atende ao público seria priorizada e teríamos estruturas de apoio mais enxutas, principalmente no topo.
No âmbito das organizações empresariais, a descentralização é a melhor forma de promover o crescimento dos negócios, mediante a ocupação de espaços, e o das pessoas, porque permite a criação de ambientes similares a pequenas empresas, nos quais líderes e liderados podem pensar e agir como donos. É a ideia da confederação de pequenas empresas, autônomas, mas sinérgicas entre si.
E por que tantas empresas não descentralizam? Certamente porque este é um processo que exige confiança. Se eu desconfio, não delego; se não delego, centralizo, ou pior, fico no meio-termo. Quando centralizo, o tamanho da empresa é o tamanho das minhas possibilidades, não é o tamanho das possibilidades de todos.
Mas um processo de descentralização, para funcionar, não se pode limitar aos serviços. Deve abranger a gestão como um todo, com responsabilidade e autoridade correspondentes, de modo a assegurar a quem recebe a delegação a possibilidade de ocupar os espaços e decidir integralmente, na hora certa.
Responsabilidade sem autoridade é limitação, não é delegação. E autoridade sem responsabilidade é baderna. Já o direito de aprender com os próprios erros deve ser parte desse processo. A dimensão e as consequências do erro serão mitigadas pela prática do que chamo de pedagogia da presença. Quem delega o poder e a responsabilidade tem o dever de oferecer a quem delegou: tempo, presença, experiência e exemplos.
Portanto, descentralizar não é abdicar, porque a delegação exige alinhamento cultural e filosófico, domínio do negócio, dos objetivos, prioridades e resultados desejados, com definição prévia de partilha dos lucros. A relação é de sociedade e parceria entre o líder e os seus liderados.
Nesse sentido, a descentralização é um processo que precisa ser acompanhado e avaliado numa perspectiva de compromisso mútuo -do líder, que deve ser um educador capaz de transferir cultura e competências, e do liderado, que deve investir no autodesenvolvimento para que alcance resultados tangíveis e intangíveis, através da satisfação dos seus clientes.


EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.


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