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Reforma atrofiada
Nunca foram especialmente enfáticas as expectativas em torno
de uma efetiva reforma no sistema
político brasileiro. A complexidade do tema e a inércia dos interesses constituídos no Congresso tornam difícil que mecanismos como o voto distrital misto, para nada
dizer do fim da obrigatoriedade do
voto, sejam colocados na pauta
imediata das discussões.
Quem se aventura a indagar pelo tema, no Senado ou na Câmara
dos Deputados, haverá entretanto
de se surpreender. A reforma política é discutida não apenas por
uma comissão, mas por duas, ao
mesmo tempo. Separadas em processos estanques as duas casas do
Congresso, não resultam desse
paralelismo nem a complementaridade dos esforços nem o estímulo da emulação.
A comissão do Senado consolidou alguns pontos, definindo-se
pelo fim das coligações em eleições proporcionais, por exemplo,
e insistindo na anacrônica defesa
do voto obrigatório. Ao mesmo
tempo, aprovou temas que, com
larga margem de certeza, serão rejeitados pela Câmara, se é que isso
não virá a ocorrer no próprio plenário dos senadores: é o caso, por
exemplo, do fim da reeleição.
A proposta não interessa aos
prefeitos e governadores -e estes
farão sentir, sobre os deputados, o
peso direto de sua influência. Influência benéfica, no caso, pois
não interessa à estabilidade do
sistema democrático nova mudança da regra sobre reeleição.
Na Câmara, as reuniões sobre
reforma política têm-se revelado
carentes de foco, abrindo-se até
agora a propostas e alternativas
das mais diversas: defensores do
voto distrital puro discutem com
os adeptos do voto proporcional
as desvantagens da lista fechada e
a impopularidade do financiamento público das campanhas,
sem que um ordenamento mínimo da pauta possa prevalecer.
O jogo de soma zero entre as iniciativas do Senado, que a Câmara
rejeita, e as dispersões da Câmara,
que o Senado ignora, repete-se
também no campo partidário. Favorável à lista fechada de candidatos (pela qual o eleitor se vê privado de escolher individualmente
seus representantes), o PT enfrenta nesse tópico a resistência de
aliados como o PMDB. Já o PT não
aceita a flexibilização da fidelidade partidária, que interessa a políticos de outras agremiações.
Obteve-se consenso por ora só
sobre temas mais periféricos, como a redução, de duas para uma,
das vagas de suplente de senador.
Ou, ainda, sobre a mudança na
data da posse do presidente, vez
que o primeiro dia do ano não é o
mais propício ao comparecimento
de autoridades e dignitários.
Resta, por fim, a distorção frequente de ter o Judiciário decidindo sobre assuntos que são da alçada do Legislativo. E também resta
a distorção, sem dúvida ainda
mais grave, de um sistema político
no qual, apesar de inestimáveis
avanços democráticos, o eleitor
ainda custa a reconhecer-se nos
representantes que elegeu.
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