São Paulo, quinta-feira, 28 de abril de 2005

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A PARCERIA BRASIL-EUA

A visita ao Brasil da secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, ocorre num quadro em que países latino-americanos, como a Bolívia, o Equador e a Nicarágua, passam por turbulências sociais e crises políticas, ao mesmo tempo em que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não dá sinais de que irá recuar de sua linha de confrontação com os Estados Unidos.
Embora concentrada em suas prioridades no Oriente Médio, a política externa da administração George W. Bush não pode, obviamente, deixar de acompanhar o que se passa na América Latina -onde o Brasil, como declarou a própria secretária, é tido como parceiro estratégico.
De fato, a viagem de Rice, que acontece pouco depois da visita do secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, não parece confirmar interpretações correntes de que a diplomacia brasileira segue uma linha de afastamento em relação aos EUA.
Em que pesem as desavenças comerciais, os atritos na Alca, a oposição à Guerra do Iraque e as inclinações antiamericanistas de setores do Itamaraty, o Brasil de Lula tem desempenhado na região o papel que os EUA esperam. O governo brasileiro apresentou-se para enviar tropas e comandar uma espinhosa missão no Haiti, não apoiou a agressiva linha de renegociação da dívida adotada pela Argentina e tem colaborado com informações estratégicas no combate à guerrilha colombiana.
No que tange a Chávez, o Brasil, a despeito de alguns gestos de "apoio" ao caudilho, tem se encarregado de transmitir os recados de Washington e atuar como moderador, procurando evitar os graves danos de um desenlace intervencionista.
Há inúmeras razões históricas, políticas, comerciais e pragmáticas para explicar o bom entrosamento nos bastidores do governo Lula com os EUA, mas também concorre para isso o desejo do Brasil de ser reconhecido como líder regional e despertar a simpatia da Casa Branca em relação a seu pleito de tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas.
Não parece aconselhável, entretanto, que o governo brasileiro alimente muitas esperanças sobre tal apoio, nem muito menos que subordine a sua política externa apenas a esse objetivo. Os norte-americanos, aliás, apesar de todas as mesuras, têm dado sinais de que se inclinam por uma reforma bastante restrita do CS. E uma política de boas relações com os EUA, que não se confunda com submissão, é a escolha acertada para o Brasil, independentemente de futuras e incertas reformas na ONU.


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