São Paulo, sábado, 28 de abril de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

É positivo o sistema de premiação para escolas que tenham bom desempenho?

NÃO

Avaliar para construir

NELSON MACULAN

FOI UMA semana importante de análise da educação no Brasil. O recém-lançado Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) deixou uma impressão positiva de um trabalho bem concebido para ampliar a qualidade de ensino no país.
As metas de resgate das escolas públicas até 2021 poderão avançar nos resultados de taxas inconcebíveis de não-aprendizagem, evasão e repetência já apurados e divulgados pelo novo método de avaliação de ensino, o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), divulgado quinta-feira.
O Rio de Janeiro ficou numa das últimas colocações. A média das escolas avaliadas foi inferior a quatro, mostrando que a rede pública no Estado está abaixo da média nacional da primeira à oitava série do ensino fundamental e também no ensino médio.
Todos parecem de acordo com a grande chance do Brasil de acertar o passo, de estabelecer metas e cobrar resultados. Além de reservar R$ 1 bilhão para investimento nos municípios com piores indicadores educacionais, o Ministério da Educação irá premiar as escolas públicas que melhorarem o seu desempenho.
No próximo ano, as crianças de seis a oito anos vão fazer a Provinha Brasil, uma avaliação como a que já é feita para os alunos mais velhos, mas creio ser duvidoso o princípio de premiar por mérito.
No Rio, o nosso governo conseguiu que o Estado acabasse neste ano com o Programa Nova Escola, criado há seis anos pelas últimas gestões.
O programa fazia uma avaliação externa dos alunos -de português e matemática e, em 2005, de ciências da natureza- e concedia gratificações a professores cujas unidades escolares, comprovadamente, apresentavam bons resultados. No total, foram avaliados cerca de 2.300.000 estudantes e, nem por isso, escapamos do vexame de mostrarmos um ensino de má qualidade.
Estou convencido de que a avaliação não é para punir nem para premiar, mas sim para construir.
Precisamos continuar a utilizar os exames nacionais e provas complementares nessas avaliações, mas é importante ressaltar que tipo de avaliação será essa. O melhor que uma escola pode oferecer aos seus alunos é o desenvolvimento de sua capacidade de abstração, pois esta lhe permitirá vencer os obstáculos mais difíceis de sua vida.
Temos que verificar as condições dos professores e alunos e comparar nossas escolas com outras unidades que estão entre as melhores.
Esse é o princípio fundamental de um sistema educacional republicano: o de garantir a igualdade de oportunidades, inclusive na avaliação do rendimento dos estudantes. A escola tem que fazer a diferença, pois, do contrário, se torna um depósito de crianças que mal saberão ler e escrever.
É hora de investir em projetos pedagógicos, na infra-estrutura das escolas, na valorização do professor e em melhores salários para eles, o que impedirá o educador de precisar lecionar em três ou quatro escolas. Defendo o tempo integral, com pelo menos oito horas do aluno na escola, de forma interessante, com atividades esportivas, culturais, de informática e línguas estrangeiras. Se o estudante estiver motivado, não haverá força no mundo que o faça não apreender novos conhecimentos.
Há muito o que fazer. No entanto, é importante salientar que o desenvolvimento da educação só dará frutos nas próximas décadas, tendo em vista os anos de omissão. Precisamos da integração de Estados e municípios, de boas gestões e do envolvimento do corpo docente no novo plano.
A prova dos nove é na sala de aula e, com esforço, vamos avançar no ensino básico e dar início a um novo século da educação no Brasil.


NELSON MACULAN, 64, engenheiro, mestre em matemática estatística (Universidade de Paris 6) e doutor em engenharia de produção (UFRJ), é secretário de Estado de Educação do Rio de Janeiro. Foi reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1990-94) e secretário de Educação Superior do Ministério da Educação nos últimos três anos.

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