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MARCOS NOBRE
Briga de torcidas
NÃO EXISTE Joaquim Barbosa sem Gilmar Mendes.
Como não existe Ciro Gomes sem José Serra. O repetidor de
clichês não vive sem o destemperado. O convencional não existe sem
o tresloucado. A questão é: o que fica de um debate nesses termos, em
que tudo acaba virando briga de
torcidas?
O que fica é conformismo. Os clichês repetidos servem para tranquilizar de que nada está no seu devido lugar. Tranquiliza porque
quem enuncia e quem ouve o clichê
se sentem seguros de que não têm
culpa da tragédia de tudo continuar como está.
Manda o clichê que se chame de
destemperado quem acha que é
preciso com urgência fazer alguma
coisa. Qualquer coisa. Por estranho
que possa parecer, também o ato
tresloucado serve para tranquilizar. Fazer qualquer coisa não muda
coisa nenhuma. Mas confirma a
necessidade de agir de maneira
explosiva.
Desde que o grande consenso do
Plano Real se firmou, com a eleição
de Lula, o debate político se dá sobre margens. Algo como decidir
entre construir casas populares ou
diminuir a dívida pública. Não significa que as diferenças entre as
posições sejam desimportantes.
Mas está muito longe de empolgar
torcidas.
Aí começa a amplificação de episódios menores, desprezíveis. Um
bate-boca no Supremo passa a fazer parte da história universal. O
convencional diz que algo "da mais
alta gravidade ocorreu". O tresloucado acha pouco e pede uma
insurreição.
O resultado é nulo. Na semana
seguinte, o episódio e os personagens já estão esquecidos. As torcidas passam a aguardar ansiosamente a próxima escaramuça miúda para cantarem seus hinos de
guerra. E tudo fica como está.
A lógica de torcida da discussão
pública tem muito a ver com a chegada de Lula ao poder. Ao contrário
do que muitos esperavam, o PT teve sucesso em se consolidar como
um dos dois polos do sistema político. E isso se deve em boa medida
ao fato de Lula ter sido bem sucedido em construir uma equipe de governo nova, principalmente nos escalões intermediários. Algo inédito
na história brasileira, acostumada
a ver sempre a mesma equipe no
poder qualquer que seja o governo.
Esse importante avanço institucional até agora não ajudou o debate público. O polo tucano diz que o
PT aparelha o Estado com uma
equipe incompetente. O polo petista retruca que o PSDB não suporta
ver que sindicalistas e ongueiros
conseguem governar melhor do
que o time tucano.
O fato é que a discussão só vai
melhorar quando deixar de ser assunto exclusivo de torcidas organizadas. Ao menos o mundo deixaria
de girar só em torno de picuinhas.
nobre.a2 uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras
nesta coluna.
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