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ANTONIO DELFIM NETTO
A lição grega
A TRAGÉDIA GREGA impressiona. Com 2.500 anos de
história e fonte inspiradora
da cultura ocidental, a Grécia sofre
as consequências de uma imprevisão quase inacreditável. Está terminando num patético "IMF go
home", que parecia apenas coisa da
"esclarecida" esquerda da América
Latina. E, no entanto, o FMI, com
um aporte de 10 bilhões a 15 bilhões, e a União Europeia, com
30 bilhões, estão tentando salvar a
Grécia de um "default" que a expulsaria da zona do euro.
Consumada como se consumou
a capacidade do país de viver à custa da poupança mundial, com uma
dívida pública de quase 300 bilhões (115% do PIB) e um deficit
orçamentário de 13,6% do PIB
(quando o compromisso para entrar na zona do euro era de deficit
fiscal anual máximo de 3% do PIB
e dívida/PIB máxima da ordem de
60%), as perguntas mais interessantes a fazer talvez sejam: há outra saída além de 1º) um "default",
que cortaria instantaneamente o
consumo alimentado pelo fluxo de
recurso externo, ou de 2º) um arranjo para acomodar o ajuste do
consumo durante alguns anos? A
resposta é não!
O problema grego ilustra dois fatos elementares. O primeiro é que
nenhum país pode viver permanentemente de recursos fornecidos por credores externos. Credores são selvagens: querem receber
o que irresponsavelmente emprestaram no tempo das vacas gordas!
O segundo é em relação ao FMI.
Com sua arrogância, duvidosa
ciência e receitas ideológicas, ele
alivia a situação dos países, permitindo que a transição da "alegre vida" à custa de financiamento para
a "dura vida" à custa de trabalho
seja feita paulatinamente.
Atribuir, porém, os seus problemas ao FMI equivale a atribuir os
incêndios aos bombeiros que vieram apagá-lo, e não aos governos
piromaníacos que os produziram.
A questão é física: por bem ou
por mal, com ou sem FMI, o consumo e o investimento gregos somados não podem mais ser maiores do que o PIB que produzem.
Em outras palavras, o "excesso" de
consumo e de investimento que
era financiado pelo exterior vai ser
"cortado", com ele ou sem ele.
Com ele, o corte do consumo se
ajustará por vários anos e, provavelmente, será menos dramático.
A grande lição da crise grega para os países emergentes em relativo equilíbrio interno e externo e
montados em "reservas" que caíram do céu da expansão mundial é
recordar "que as consequências
vêm sempre depois".
Deficits fiscais produzidos por
políticas distributivas exageradas,
aumentos cumulativos automáticos de despesas de custeio que sacrificam os investimentos públicos
e câmbio valorizado são uma boa
receita para transformar a alegria
de curto prazo em tragédia grega
no longo prazo...
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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