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Oposição sem rumo
Chama a atenção na candidatura de Geraldo Alckmin, até agora, a sua falta de mensagem substantiva de mudança
DESAVENÇAS , farpas,
amuos e bicadas vão
cercando a candidatura de Geraldo Alckmin
à Presidência de todas as características de um espetáculo teatral mal-ensaiado, precariamente concebido, cada vez mais hesitante entre o ridículo da forma e
a pobreza do conteúdo.
Às voltas com índices escassos
de popularidade, sobretudo incapazes de ultrapassar o nível diminuto das vaidades ofendidas e
das intrigas de bastidor, pefelistas e tucanos expõem um estridente jogo de acusações mútuas,
interrompido apenas por silêncios carregados de oportunismo.
No PSDB, é notório que a candidatura Alckmin suscitou ressentimentos que seu desempenho nas pesquisas só fez intensificar. No campo pefelista, o estreitamento das perspectivas de
vitória impõe, se isso é possível,
um estado de nervosismo ainda
mais difícil de controlar.
Mais do que esse constrangedor alarido de suscetibilidades à
flor da pele, o que chama a atenção na candidatura Alckmin até
agora é sua falta de mensagens
substantivas de mudança.
A bandeira da "ética na política", que o PT deixou de ter condições de empunhar, caiu nas
mãos do PSDB e do PFL para ser
agitada freneticamente nas
CPIs; mas os antecedentes fisiológicos de seus novos depositários estavam longe de torná-los
convincentes nesse papel. Era
indisfarçável, com efeito, o açodamento eleitoreiro daquela espécie de udenismo requentado,
sobre o qual mesmo algumas ramificações do valerioduto vinham respingar.
Do ponto de vista da política
econômica, o grupo tucano que
defende alterações na ortodoxia
ainda não se faz ouvir no discurso do candidato. O ex-governador parece estar sob pressão de
personalidades ainda influentes
cujo pensamento vem dominando a macroeconomia há 12 anos.
No outro extremo da escala social, o Bolsa-Família ocupa agora
-com mais eficiência, diga-se-
o terreno antes propício ao clientelismo pefelista. À população
dos grandes centros urbanos,
onde o problema da segurança
pública assume proporções
inauditas, é verdade que nenhuma força política tem propostas a
apresentar -mas o PSDB menos
ainda que seus rivais.
A fragilidade que a candidatura
Alckmin tem revelado até aqui se
vê agravada por um fator mais
profundo, de ordem institucional. Enquanto o PFL sempre sobreviveu como partido clientelista, à sombra do poder, o PSDB
se estruturou mais como uma
agremiação de "notáveis" -aos
quais o êxito do Real garantiu um
caminho luxuosamente acarpetado para o poder- do que como
um partido enraizado nas organizações da sociedade civil. Se o
PT hoje se mostra escancaradamente distante de suas origens
jacobinas, para tornar-se simplesmente uma máquina a serviço da reeleição, o PSDB e o PFL
giram no vazio de seus arrufos,
arroubos, vaidades e pretensões.
Uma democracia que se quer
moderna prepara-se, assim, para
uma campanha que não parece
ter nada a oferecer, até o momento, além da mistificação personalista de um suposto "pai dos
pobres" e do que o marketing político puder acrescentar de invencionice à falta de propostas
reais de transformação.
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