|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
As duas faces de Obama
Brasil e Turquia deram um passo à frente ao obter do Irã um acordo sobre enriquecimento de urânio, há quase duas semanas. Se
faltavam evidências para amparar
essa conclusão, elas aparecem
nos termos da carta enviada pelo
presidente Barack Obama a seu
colega brasileiro pouco antes da
visita de Lula ao país persa, como
revelou ontem a Folha.
A proposta apresentada a Mahmoud Ahmadinejad, vê-se agora,
tinha também por objetivo atender às condições impostas pelos
EUA para retomar o "processo diplomático construtivo" com o Irã.
O presidente norte-americano
expõe, no documento, um modelo
de "caminho a seguir" e detalha
suas expectativas. Nenhum dos
pontos mais importantes elencados por Obama deixou de ser contemplado no acordo.
Na carta, o mandatário democrata apoia expressamente o envio de 1.200 kg de urânio levemente enriquecido à Turquia, como a
Agência Internacional de Energia
Atômica já propugnara, em outubro de 2009. Disse isso há um mês.
Mas, alcançado o acordo, mudou
o discurso!
O montante de urânio trocado,
afirmam agora os americanos,
não oferece as mesmas garantias
de sete meses atrás. Com um
maior estoque remanescente, o
Irã poderia fabricar a bomba.
O Itamaraty, ao que parece, não
esperava de Obama uma posição
pública distinta daquela manifestada a Lula. O erro de cálculo dos
diplomatas brasileiros talvez fosse
menor caso tivessem se fiado menos em palavras e mais nas circunstâncias políticas.
Sempre ameaçado pela pecha
de fraqueza, que a oposição tenta
lhe aplicar, e às vésperas de eleições legislativas, era improvável
que Obama recuasse do processo
por ele já lançado de infligir novas
sanções ao regime iraniano. Além
disso, a pressão sobre o Irã é moeda de troca do governo dos EUA
para obter concessões de Israel
em busca de algum entendimento
com os palestinos.
A diplomacia brasileira foi subestimada nas negociações com o
Irã -e ela própria não previu a
reação norte-americana. Mas o
pior desse episódio é a atuação de
Obama -um presidente que age
cada vez mais com duas caras.
Texto Anterior: Editoriais: Olhar para a frente Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Direitos fora de moda Índice
|