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Lula e Dilma
Blindagem de Palocci cria oportunidade para pressões fisiológicas, além de abrir espaço para volta ruidosa de ex-presidente à cena política
A desenvoltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em
Brasília, ao empalmar o comando
do combate ao incêndio do caso
Palocci, é o maior sintoma da vertiginosa fragilização de Dilma
Rousseff no curso da semana.
A própria presidente viu-se impelida, ato contínuo, a mostrar as
caras e as falas, para reaver parte
do espaço ocupado pelo mentor.
Diante da cena clássica de um
homem poderoso -o ministro Antonio Palocci- recusando-se a dar
explicações sobre o súbito aumento de seu patrimônio pessoal, puseram-se em marcha as engrenagens de um enredo igualmente conhecido. Manietado pela necessidade de montar operações de blindagem, silêncio e desconversa,
Palocci perdeu o controle sobre a
votação do Código Florestal.
O texto aprovado na Câmara
dos Deputados, ao pender para o
lado dos proprietários rurais, foi
recebido em várias praças como
uma lei para atrasar a entrada do
país no século 21. Um Código Florestal que anistia responsáveis
por alguns desmatamentos ilegais
galvanizou uma larga maioria de
parlamentares, que alia setores
ruralistas tradicionais à base fisiológica do governo -todos ansiosos por mais fatias de poder.
Faltava, nesse cenário de enfraquecimento do Planalto e de volatilização de sua confortável maioria no Congresso, a contribuição
de outra bancada tradicional, a
dos deputados evangélicos. Manifestaram-se -e foram atendidos
pelo Planalto- no caso do chamado kit anti-homofobia. O recuo de
Dilma foi imediato e constrangedor, ao menos para o ministro da
Educação, Fernando Haddad.
Além dos arranjos de geometria
variável que reúnem ruralistas,
evangélicos e fisiológicos em torno de demandas mais defensáveis
ou menos, e obviamente de Lula,
quem se beneficia com a presidente e seu articulador-mor na defensiva é o PMDB de Michel Temer.
Mesmo que Palocci venha a dar
explicações plausíveis sobre a
profícua atividade empresarial
paralela (o que se afigura cada vez
mais complicado), ou no caso de a
blindagem tanto conter o fogo
amigo quanto resistir às investigações do Ministério Público e da imprensa, o ministro verá seu raio de
ação reduzido. Haverá, decerto,
ampliação proporcional do balcão
de varejo que o operador palaciano sempre termina obrigado a
manter aberto e polido, para servir
ao PMDB e a outros sócios vorazes
do poder.
A julgar pela deterioração da situação política na semana, o caso
Palocci não irá embora tão cedo.
Na hipótese de agravar-se, quem
tem mais a perder não é o ministro, mas Dilma -como parece ter
intuído, rapidamente, o sempre
sagaz ex-presidente Lula.
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