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São Paulo, sábado, 28 de junho de 2003

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DROGAS E SAÚDE

Se alguém ainda tinha dúvidas quanto à limitação das estratégias de combate às drogas baseadas na repressão, poderá perdê-las ao verificar que o consumo de substâncias ilícitas está aumentando. De acordo com estimativa do Escritório da ONU de Combate às Drogas e ao Crime (UNODC), 4,7% da população mundial acima de 15 anos consumiu psicotrópicos proibidos no período 2000-2001, contra 4,3% em 1998-2000. Em termos mais concretos, os usuários de drogas ilícitas passaram de 185 milhões a 200 milhões.
Não é um crescimento que deva tirar o sono das autoridades sanitárias, mas não deixa de ser inquietante que os bilhões de dólares investidos anualmente na repressão ao tráfico não estejam conseguindo conter a demanda. Foi a maconha, atualmente utilizada por 3,9% dos habitantes do planeta, que liderou a alta (em 1998-2000, os consumidores de Cannabis eram 3,4%).
É evidente que as drogas não podem ser todas elas legalizadas da noite para o dia. Para percebê-lo basta verificar que as drogas lícitas têm um nível de consumo significativamente superior. O álcool, por exemplo, é usado por 60% da população mundial, e o tabaco, por 40%. E não é preciso ser "expert" em epidemiologia para perceber que, se o número de usuários de substâncias ilícitas fosse multiplicado por dez ou mais, teríamos um gravíssimo problema de saúde pública, com uma explosão de casos de dependência e overdose.
Constatar essa obviedade não deve nos impedir de ver que apenas reprimir o tráfico e o consumo é uma estratégia equivocada. Ela parece incapaz de reduzir o uso, e isso a um custo financeiro muito alto.
No curto prazo é preciso tratar de descriminalizar o consumo de todos os entorpecentes. Não é mandando o usuário, por vezes dependente, para a cadeia que se vai avançar nesse campo. Num período mais dilatado, quando os sistemas educacionais forem tão bons que ofereçam aos jovens o instrumental para fazer escolhas conscientes, as drogas então poderão ser legalizadas.


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