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DROGAS E SAÚDE
Se alguém ainda tinha dúvidas
quanto à limitação das estratégias de combate às drogas baseadas
na repressão, poderá perdê-las ao verificar que o consumo de substâncias
ilícitas está aumentando. De acordo
com estimativa do Escritório da
ONU de Combate às Drogas e ao Crime (UNODC), 4,7% da população
mundial acima de 15 anos consumiu
psicotrópicos proibidos no período
2000-2001, contra 4,3% em 1998-2000. Em termos mais concretos, os
usuários de drogas ilícitas passaram
de 185 milhões a 200 milhões.
Não é um crescimento que deva tirar o sono das autoridades sanitárias, mas não deixa de ser inquietante
que os bilhões de dólares investidos
anualmente na repressão ao tráfico
não estejam conseguindo conter a
demanda. Foi a maconha, atualmente utilizada por 3,9% dos habitantes
do planeta, que liderou a alta (em
1998-2000, os consumidores de Cannabis eram 3,4%).
É evidente que as drogas não podem ser todas elas legalizadas da
noite para o dia. Para percebê-lo basta verificar que as drogas lícitas têm
um nível de consumo significativamente superior. O álcool, por exemplo, é usado por 60% da população
mundial, e o tabaco, por 40%. E não
é preciso ser "expert" em epidemiologia para perceber que, se o número
de usuários de substâncias ilícitas
fosse multiplicado por dez ou mais,
teríamos um gravíssimo problema
de saúde pública, com uma explosão
de casos de dependência e overdose.
Constatar essa obviedade não deve
nos impedir de ver que apenas reprimir o tráfico e o consumo é uma estratégia equivocada. Ela parece incapaz de reduzir o uso, e isso a um custo financeiro muito alto.
No curto prazo é preciso tratar de
descriminalizar o consumo de todos
os entorpecentes. Não é mandando
o usuário, por vezes dependente, para a cadeia que se vai avançar nesse
campo. Num período mais dilatado,
quando os sistemas educacionais forem tão bons que ofereçam aos jovens o instrumental para fazer escolhas conscientes, as drogas então poderão ser legalizadas.
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