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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
O risco dos transgênicos
O assunto não é apenas científico. É uma questão ética que requer discernimento para evitar danos
talvez irreparáveis. A ciência e a tecnologia devem estar orientadas para o
desenvolvimento da pessoa humana e
para o bem comum e requerem harmonizar-se com os princípios morais.
O problema dos transgênicos está
em pauta não só na pesquisa dos cientistas, mas pelas vantagens econômicas que podem precipitar, por causa
de lucros comerciais, uma série de
efeitos negativos.
Recente declaração assinada em 6/5
por 14 bispos católicos que acompanham mais de perto as questões de
justiça social no Brasil e, em particular, as que se referem à terra, externa
preocupações e alerta-nos sobre vários aspectos ligados aos transgênicos.
Começa o texto conceituando os
transgênicos como resultado de manipulação genética que permite produzir, alterar e transformar genes entre
os seres vivos, rompendo a barreira do
cruzamento entre as espécies. São
enumerados, a seguir, os principais
riscos:
a) os transgênicos, se não forem bem
controlados, podem causar sério detrimento à saúde humana, pois a alimentação com grão geneticamente
modificado é capaz de provocar alergias, resistência aos antibióticos e aumento do índice de substâncias tóxicas. É preciso garantir com severas
normas a segurança alimentar;
b) podem ainda acarretar risco ecológico imprevisível, com o desaparecimento progressivo da biodiversidade,
já que o aumento da monocultura levará à perda de variedade e qualidade
das sementes;
c) o patenteamento em curso tornará os transgênicos propriedade exclusiva de grupos econômicos, lesando a
soberania alimentar do Brasil e dos
demais países, que vão depender dos
proprietários das patentes;
d) prevê-se a rápida diminuição da
pequena e média agricultura que serão dominadas pelo monopólio da
produção das empresas transnacionais. Compreende-se, portanto, a justa apreensão diante do problema dos
transgênicos e a expectativa de que as
sementes sejam declaradas patrimônio da humanidade e conservadas na
sua integridade genética a serviço das
gerações atuais e futuras. A mesma
apreensão se reflete na "Carta da Terra", documento lançado no Senado
no dia 11 de junho e assinada por 43
entidades que atuam no campo.
Nasce daí a esperança de que as autoridades de nosso país, científicas e
políticas, continuem aprofundando o
estudo do problema e evitem qualquer decisão prematura que possa vir
a causar danos imprevisíveis.
Ao mesmo tempo em que permanecem as preocupações com os transgênicos, precisamos acolher com satisfação a boa notícia do lançamento do
Plano Safra, anunciado pelo presidente Lula em 24/6. A iniciativa é promissora, pois abre perspectivas novas para 750 mil famílias de assentados, que
se beneficiarão com a garantia da
compra de cinco produtos básicos e
outras vantagens. Além disso, o plano
assegura financiamento pelo Pronaf a
mais de um milhão de pequenos agricultores. O Plano Safra é o primeiro
passo em demanda progressiva e desejada reforma agrária em nosso país
fortalecendo a agricultura familiar.
Pedimos a Deus que nos ajude a unir
esforços para evitar o risco dos transgênicos e a apoiar as iniciativas governamentais que promovam condições
dignas de vida para nossa população.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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