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A meta informal
Decisão do governo Lula sobre a meta de inflação de 2009 foi ruim, pois lançou incertezas acerca da operação do sistema
PELA PRIMEIRA vez desde
que o sistema de metas
foi implantado, o resultado da reunião de anteontem do Conselho Monetário Nacional para definir o nível de inflação tolerável em 2009 tinha
importância relativamente reduzida. Mas o governo Lula conseguiu, mais uma vez, criar um
problema onde ele não existia.
Manter o alvo em 4,5% ao ano
ou baixá-lo para 4% faria pouca
diferença. Em ambos os casos,
estaria reafirmado o compromisso do governo com a inflação
baixa, uma conquista da sociedade. A etapa mais dramática do
processo de desinflação, iniciado
em meados de 2002, já foi vencida. O fortalecimento das contas
externas, favorecido por um longo período de bonança econômica global, dificulta o retorno a patamares elevados de inflação.
Em meio a um cotejo tão tênue
de custos e benefícios entre uma
ou outra opção, esta Folha preferiria que o alvo de 4,5% houvesse sido mantido por mais dois
anos. Seria uma segurança a
mais para o processo de transição, em curso, rumo a níveis de
juros mais baixos, compatíveis
com os internacionais, e a um
perfil de dívida pública menos
oneroso para os contribuintes.
Já os que propugnavam pela
diminuição da meta a ser perseguida pelo Banco Central acenavam com os ganhos incrementais de confiança que a atitude
representaria para a economia.
Com mais confiança, mais investimentos seriam realizados,
mais capital de fora fluiria para
cá, e o crescimento da atividade
poderia prolongar-se sem ameaça à estabilidade dos preços.
Qual rei Salomão, o presidente
Lula decidiu contentar cada lado
do debate com meia vitória. A
meta oficial para a alta do IPCA
em 2009 foi mantida em 4,5%,
mas criou-se a figura da meta informal, de 4%, a ser perseguida
na prática pelo Banco Central.
Foi a pior decisão possível. Além
de desperdiçar as vantagens potenciais de uma ou outra opção à
mesa, ela contribuirá para lançar
dúvidas sobre como vai comportar-se o sistema de metas daqui
para a frente.
O Brasil adota, desde 1999,
uma política antiinflacionária
baseada na transparência. Os
agentes sabem de antemão qual
alvo o BC perseguirá e com que
margem de tolerância. A um custo excessivo para o emprego e a
renda -e com o auxílio de mais
de quatro anos de estabilidade
financeira e crescimento econômico no planeta-, o fato é que
hoje as expectativas de mercado
estão em sintonia com as diretrizes da política monetária.
Não há razão para perturbar
essa conquista -a convergência
das expectativas dos agentes
com as metas perseguidas pelo
BC é o fulcro conceitual do sistema- com a adoção de uma meta
informal. A lendária incapacidade de decidir do presidente Lula
conseguiu a proeza de lançar para dentro do sistema de metas
uma disputa não resolvida entre
seus assessores. Está aberto um
novo flanco de incerteza: a meta
perseguida será a do presidente
do BC (4%) ou a do ministro da
Fazenda (4,5%)?
Trata-se de um ruído que poderá acarretar novos custos desnecessários à economia do país.
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