São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009

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EMÍLIO ODEBRECHT

Nossas cidades

O BRASIL se urbanizou e hoje 80% da população vive em cidades. As capitais foram as que mais sofreram com esse processo e uma das piores consequências foi a deterioração das áreas centrais. A riqueza arquitetônica, os passeios públicos, os jardins de inspiração europeia que ilustram publicações sobre nosso passado recente perderam espaço para a desordem e o abandono porque nossas grandes cidades não estavam preparadas para crescer tanto.
A principal causa desse movimento foi o desequilíbrio entre o desenvolvimento econômico dessas cidades e o do interior. Um programa de fixação das pessoas onde nasceram pode estancar esta migração e até revertê-la -mas desse assunto já tratei aqui. Hoje, quero tratar da realidade que está posta.
As pessoas mudaram para bairros distantes e as áreas centrais se deterioram, mas a oferta de trabalho ali ainda é grande. Como o transporte público é precário, quem pode recorre ao carro e os engarrafamentos se sucedem.
Uma alternativa é o repovoamento dos núcleos das grandes cidades mediante alguma forma de incentivo. Se parte da população que trabalha no centro lá também morasse, o alívio para o sistema de transporte seria enorme e as ruas poderiam reviver, principalmente no período noturno.
Na mesma linha de raciocínio, caberia o incentivo para que grandes empreendimentos, principalmente comerciais, fossem para a periferia, de modo a se evitar ou reduzir o fluxo de pessoas entre centro e bairros. Este acordo, fruto da cooperação entre o setor público e a iniciativa privada, contribuiria para minimizar o sofrimento de quem trabalha distante de onde mora e que, hoje, numa cidade como São Paulo, pode gastar até cinco horas de seu dia no trânsito, reduzindo a quase nada o período de descanso.
Outra alternativa seria fazer do transporte coletivo o meio predominante de locomoção em dias úteis.
Já é hora de discutirmos, de forma objetiva e serena, a adoção de medidas que regulem o uso de veículos particulares, principalmente os que transportam uma única pessoa.
Por exemplo, o pedágio urbano, que vem sendo adotado em grandes cidades do mundo. Com o pedágio urbano desafoga-se o centro da cidade e os recursos gerados podem servir para custear ideias como a implantada em Seattle, nos Estados Unidos. Lá, o transporte público na área central, em perímetro conhecido como "linha amarela", é gratuito.
Ou seja: com vontade e criatividade, nossas grandes cidades poderão recuperar o clima de civilizada convivência que já ofereceram no passado.


EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.


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