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EMÍLIO ODEBRECHT
Nossas cidades
O BRASIL se urbanizou e hoje 80% da população vive em cidades.
As capitais foram as que mais sofreram com esse processo e uma
das piores consequências foi a deterioração das áreas centrais.
A riqueza arquitetônica, os passeios públicos, os jardins de inspiração europeia que ilustram publicações sobre nosso passado recente perderam espaço para a desordem e o abandono porque nossas
grandes cidades não estavam preparadas para crescer tanto.
A principal causa desse movimento foi o desequilíbrio entre o
desenvolvimento econômico dessas cidades e o do interior.
Um programa de fixação das pessoas onde nasceram pode estancar
esta migração e até revertê-la
-mas desse assunto já tratei aqui.
Hoje, quero tratar da realidade
que está posta.
As pessoas mudaram para bairros distantes e as áreas centrais se
deterioram, mas a oferta de trabalho ali ainda é grande. Como o
transporte público é precário,
quem pode recorre ao carro e os
engarrafamentos se sucedem.
Uma alternativa é o repovoamento dos núcleos das grandes cidades mediante alguma forma de
incentivo. Se parte da população
que trabalha no centro lá também
morasse, o alívio para o sistema de
transporte seria enorme e as ruas
poderiam reviver, principalmente
no período noturno.
Na mesma linha de raciocínio,
caberia o incentivo para que grandes empreendimentos, principalmente comerciais, fossem para a
periferia, de modo a se evitar ou reduzir o fluxo de pessoas entre centro e bairros.
Este acordo, fruto da cooperação
entre o setor público e a iniciativa
privada, contribuiria para minimizar o sofrimento de quem trabalha
distante de onde mora e que, hoje,
numa cidade como São Paulo, pode
gastar até cinco horas de seu dia no
trânsito, reduzindo a quase nada o
período de descanso.
Outra alternativa seria fazer do
transporte coletivo o meio predominante de locomoção em dias
úteis.
Já é hora de discutirmos, de forma objetiva e serena, a adoção de
medidas que regulem o uso de veículos particulares, principalmente
os que transportam uma única pessoa.
Por exemplo, o pedágio urbano,
que vem sendo adotado em grandes cidades do mundo.
Com o pedágio urbano desafoga-se o centro da cidade e os recursos
gerados podem servir para custear
ideias como a implantada em Seattle, nos Estados Unidos. Lá, o
transporte público na área central,
em perímetro conhecido como "linha amarela", é gratuito.
Ou seja: com vontade e criatividade, nossas grandes cidades poderão recuperar o clima de civilizada
convivência que já ofereceram no
passado.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta
coluna.
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