São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2008

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

gilberto@kassab.com.br

SÃO PAULO - Se as coisas já não andavam nada boas para o lado do prefeito Gilberto Kassab, ficaram bem feias agora, com a revelação -num grande furo da jornalista Renata Lo Prete- de que acionou por e-mail quase todos os subprefeitos da cidade com a recomendação de que tentassem interferir no campo da recente pesquisa do Datafolha.
O episódio tem implicações legais, já que é proibida a ação eleitoral de agentes públicos em serviço. Mas, se a intenção é coibir o uso da máquina em benefício de qualquer candidatura, sob este aspecto valeria comparar a falta do prefeito e a publicação da revista "Governo Lula nos Municípios", patrocinada com dinheiro público e já incorporada às campanhas do PT pelo país, como noticiou a Folha no sábado.
O que chama a atenção na operação tabajara de Kassab não é o maquiavelismo, mas a mistura de insensatez com ingenuidade, de malandragem com inocência, de esperteza com amadorismo político.
Registre-se, para quem é chegado em duendes: o prefeito diz que não tinha a pretensão, de resto desvairada, de inflar seu desempenho na pesquisa, mas a intenção de reagir a possíveis distúrbios por encomenda nos locais do campo, segundo ele praticados por militantes do PT.
Traído pelo excesso de confiança ou vítima do próprio desespero? As coisas se misturam. Pressionado pela necessidade de mostrar aos tucanos que o apóiam que ainda tem alguma chance de embaralhar a disputa polarizada entre Marta e Alckmin, Kassab recebe da elite da máquina que supostamente comanda um recado inequívoco de que o desembarque já começou.
Flagrado num flerte com a ilegalidade, está claro que o prefeito foi apunhalado por algum dos seus que já bandeou para o lado de Alckmin. Essa será a tendência, que dificilmente a campanha na TV (onde o democrata tem mais tempo que os rivais) conseguirá reverter.
Os tucanos de São Paulo atolaram num pântano. Resta saber como José Serra, o padrinho de toda a meleca, vai sair dessa.


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