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MARCOS NOBRE
Renúncia coletiva
CRISES AGUDAS do Senado na
última década coincidem
com momentos de sucessão
presidencial. A primeira delas,
envolvendo ACM e Jader Barbalho, em 2001, coincidiu com o "apagão" de energia, marca do declínio
da liderança de FHC e início de fato
de sua sucessão.
Com a aprovação da reeleição,
FHC garantiu controle sobre áreas
vitais de seu próprio governo durante seis anos. Contando com sua
reeleição, Lula deveria ter em princípio os mesmos seis anos de hegemonia. Mas o episódio do "mensalão", em 2005, quebrou qualquer
possível linha de continuidade entre seus dois mandatos.
A tentativa bem sucedida de Lula
de descolar sua figura do sistema
político no período do "mensalão"
levou, no segundo mandato, à estratégia de antecipar e controlar
sua própria sucessão, de maneira a
ter poder sobre seu governo até o
final. Não por acaso, portanto, a
crise Renan Calheiros, em 2007,
coincidiu com o lançamento da
candidatura de Dilma Rousseff.
Desde FHC, o sistema político
funciona com base em dois polos,
liderados até aqui por PT e PSDB.
Alguns partidos estão presos a um
dos polos, outros aderem ao polo
no poder. A instabilidade crônica
em períodos que antecedem sucessões presidenciais se deve ao fato
de partidos que não estão presos a
nenhum dos polos, PMDB à frente,
iniciarem uma disputa selvagem
-interna e externa- pelo posicionamento mais favorável possível
na eleição que se aproxima.
A atual crise do Senado é mais
uma vez expressão dessa disputa
selvagem. Mas tem seu elemento
específico no arranjo que elegeu
José Sarney: um tucano figura como seu substituto imediato. Lula
sustenta Sarney por não querer ver
o Senado presidido por Marconi
Perillo. O impasse se instalou porque também à oposição não interessa a queda de Sarney: ganharia
um enorme telhado de vidro eleitoral, com toda a pressão se voltando
sobre um tucano.
Vistas as coisas dessa maneira,
não parece haver outra saída imediata para o impasse que não a negociação entre governo e oposição
para uma renúncia coletiva da mesa diretora do Senado e não apenas
a renúncia isolada de Sarney. Claro
que um movimento como esse não
resolve uma crise que é estrutural.
Nem quer dizer que será fácil
encontrar nomes para compor
uma nova mesa diretora. Mas pelo
menos poderia garantir aquele
funcionamento precário mínimo
que caracteriza o sistema político
a partir de 1994.
Porque nada indica até aqui que
as denúncias vão desaparecer ou
que a pressão sobre Sarney vá diminuir. E o quiproquó da CPI da
Petrobras tende apenas a agravar o
impasse.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras
nesta coluna.
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