São Paulo, terça-feira, 28 de julho de 2009

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MARCOS NOBRE

Renúncia coletiva

CRISES AGUDAS do Senado na última década coincidem com momentos de sucessão presidencial. A primeira delas, envolvendo ACM e Jader Barbalho, em 2001, coincidiu com o "apagão" de energia, marca do declínio da liderança de FHC e início de fato de sua sucessão.
Com a aprovação da reeleição, FHC garantiu controle sobre áreas vitais de seu próprio governo durante seis anos. Contando com sua reeleição, Lula deveria ter em princípio os mesmos seis anos de hegemonia. Mas o episódio do "mensalão", em 2005, quebrou qualquer possível linha de continuidade entre seus dois mandatos.
A tentativa bem sucedida de Lula de descolar sua figura do sistema político no período do "mensalão" levou, no segundo mandato, à estratégia de antecipar e controlar sua própria sucessão, de maneira a ter poder sobre seu governo até o final. Não por acaso, portanto, a crise Renan Calheiros, em 2007, coincidiu com o lançamento da candidatura de Dilma Rousseff.
Desde FHC, o sistema político funciona com base em dois polos, liderados até aqui por PT e PSDB. Alguns partidos estão presos a um dos polos, outros aderem ao polo no poder. A instabilidade crônica em períodos que antecedem sucessões presidenciais se deve ao fato de partidos que não estão presos a nenhum dos polos, PMDB à frente, iniciarem uma disputa selvagem -interna e externa- pelo posicionamento mais favorável possível na eleição que se aproxima.
A atual crise do Senado é mais uma vez expressão dessa disputa selvagem. Mas tem seu elemento específico no arranjo que elegeu José Sarney: um tucano figura como seu substituto imediato. Lula sustenta Sarney por não querer ver o Senado presidido por Marconi Perillo. O impasse se instalou porque também à oposição não interessa a queda de Sarney: ganharia um enorme telhado de vidro eleitoral, com toda a pressão se voltando sobre um tucano.
Vistas as coisas dessa maneira, não parece haver outra saída imediata para o impasse que não a negociação entre governo e oposição para uma renúncia coletiva da mesa diretora do Senado e não apenas a renúncia isolada de Sarney. Claro que um movimento como esse não resolve uma crise que é estrutural.
Nem quer dizer que será fácil encontrar nomes para compor uma nova mesa diretora. Mas pelo menos poderia garantir aquele funcionamento precário mínimo que caracteriza o sistema político a partir de 1994.
Porque nada indica até aqui que as denúncias vão desaparecer ou que a pressão sobre Sarney vá diminuir. E o quiproquó da CPI da Petrobras tende apenas a agravar o impasse.

nobre.a2@uol.com.br


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.


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