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RUY CASTRO
Piada sinistra
RIO DE JANEIRO - Os programas
de humor da TV estão proibidos de
fazer imitações, sátiras e gozações
com os candidatos às próximas
eleições. Essa piada sinistra (copyright Nelson Rodrigues) atende pelo nome fantasia de resolução
23.191/2009 do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Mas a palavra correta
é censura. O texto veta qualquer fala ou cena que "degrade ou ridicularize candidato, partido político
ou coligação".
Isso dobra a responsabilidade
dos candidatos a presidente, governador, deputado ou senador. Por
causa da resolução, caberá exclusivamente a eles a função de degradar a si próprios ou de se ridicularizarem uns aos outros. O que eles já
fazem o ano inteiro, certo. Mas,
agora, com a mordaça aos humoristas, terão de ser comediantes em
tempo integral.
O apoio de Fernando Collor a Dilma Rousseff, por exemplo, cumpre
as funções citadas acima e também
o inverso delas -a aceitação desse
apoio, idem. E os apitos emitidos
pelo deputado Indio da Costa, vice
de Serra, sobre supostas ligações
do PT, também dispensam a intervenção de meus amigos do "Casseta & Planeta" -os sobressaltos que
Indio provoca em Serra já são hilariantes por si.
Na verdade, não ficaremos sem o
humor político na TV. O horário
gratuito obrigatório preencherá esta lacuna. Pena que, escrito por redatores de quinta e interpretado
por canastrões, sua capacidade de
fazer graça logo se esgotará. Em
poucos dias, ao vê-lo surgir na tela,
empatando a programação, o normal será que o telespectador desligue a TV e saia chutando baldes.
Mas nem tudo está perdido. As
gozações, sátiras e imitações, assim
como graves acusações, com ou
sem fundamento, continuarão a
circular -na internet. E, se conseguirem censurar a internet, sempre
restarão as esquinas e os botecos,
que é onde o povo exerce o seu irreprimível humor político.
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