São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Grandes assimetrias do poder mundial
GILBERTO DUPAS
Os países que classifico a seguir também são ricos (os de PPP superior a 19 mil anuais), mas menores. Entre essas 11 nações estão Canadá, Espanha, Austrália, Holanda e Áustria. Elas perfazem 10% do PIB mundial, usufruídos por apenas 3% da população do planeta. Em seguida temos o bloco dos "grandes países da periferia". Cada um deles tem mais de US$ 120 bilhões de PIB e sua população é superior a 25 milhões de habitantes. São eles China, Brasil, México, Coréia do Sul, Índia, Argentina, Rússia, Turquia, Polônia, Indonésia, África do Sul e Tailândia. Respondem por outros 14% da riqueza mundial, com 53% da população total. A renda per capita média deles, ponderada pela população, é de US$ 4.487 anuais. Resta a enorme maioria de 176 países que, com algumas exceções, como Chile e Venezuela, é a ampla periferia do poder mundial e detém, todos juntos, apenas 10% da riqueza mundial, com 33% de sua população. Eles são relativamente irrelevantes para a lógica do poder mundial e concentram enorme miséria. Para a grande maioria deles, o mundo global não tem nenhuma palavra de consolo. Eles entram em sua agenda só quando são produtores de drogas, sede de grupos terroristas ou estão submetidos a uma situação grave de genocídio. É claro que essa imensa concentração de poder não significa necessariamente um exercício permanente de dominação. Até porque a experiência histórica do exercício de hegemonia implica a condição de o país ou grupo de países hegemônico ser percebido pelo sistema de nações como adotando um discurso e uma prática que beneficiem minimamente os outros. Se isso não ocorrer, hegemonia transforma-se em tirania. Felizmente, parece que o mundo global é hoje muito complicado e cheio de contradições para se dar a esse luxo macabro de manter uma situação imperial e tirana por muito tempo. É disso que nos fala Joseph Nye, com sua metáfora sobre o jogo de xadrez do poder mundial em três níveis. É no terceiro tabuleiro -que não é do poder militar nem do econômico convencionais- que podem ocorrer lances decisivos para abalar a arrogância imperial. Lá estão organizações da sociedade civil, empresas, traficantes, pacifistas, terroristas, parte da mídia independente, intelectuais e outras forças complexas, dinâmicas e razoavelmente autônomas. A tecnologia da informação, desenvolvida nos dois primeiros tabuleiros, mas socializada pela própria lógica da globalização, garante a esses atores instrumentos poderosos que podem se voltar brutalmente contra seus criadores. Haja visto a tragédia do WTC. Apesar de todos os imensos avanços na ciência e na tecnologia, somos parte de um mundo cruel e injusto, onde a solidariedade é escassa e viver continua sendo um grande risco. Gilberto Dupas, 59, economista, coordenador-geral do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional, da USP, é presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais e autor, entre outras obras, de "Hegemonia, Estado e Governabilidade" (Senac). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Gustavo Venturi: Opinião pública e projetos de poder Índice |
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