São Paulo, quinta-feira, 28 de agosto de 2008

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Editoriais

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Olavo Setubal

PREFEITO de São Paulo de 1975 a 1979, Olavo Setubal foi uma daquelas raras figuras públicas que, embora atuantes em pleno regime militar, passam para a história sem ter seu nome associado às condenações que aquela fase da história brasileira merecidamente inspira.
Nomeado, e não eleito, para o cargo, Setubal não foi todavia prefeito de fechar-se em gabinetes. Sua presença em eventos públicos caracterizava-se por uma simpática disposição comunicativa, a que certa bonomia fisionômica contribuía para marcar uma diferença sensível -naqueles anos ainda sombrios- com a máscara fixa dos representantes mais duros do regime.
Como administrador, foi certamente homem de seu tempo: engenheiro e empresário, privilegiava o aspecto técnico dos problemas urbanos, antes que considerações de ordem política -no que têm de bom e de péssimo- pesassem em cada decisão.
Os anos 70 marcaram, de resto, a transição de um modo francamente autoritário e retrógrado no trato dos negócios de Estado para o predomínio de uma visão tecnocrática e modernizante. Desse espírito, aliás, é testemunho o papel decisivo do empresário Olavo Setubal na configuração do moderno sistema bancário do país.
Por certo, conceitos como "cidadania" e "participação" não estavam ainda na agenda dos governantes. Dentro daqueles parâmetros, Setubal soube entretanto valorizar iniciativas de convivência urbana -passeios a pé, proteção da memória da cidade, abertura de espaços públicos- que viriam a ter importância crescente na cidade.
Ao mesmo tempo, um estilo mais brusco e franco nas declarações -para nada dizer dos códigos de rigor no trato das finanças públicas- marca positivamente a comparação que se possa fazer de Olavo Setubal com a maioria dos políticos atuais. Hoje se confunde, com efeito, a necessidade de sustentação eleitoral com a adoção de um discurso quimicamente produzido com vistas a agradar a todos e a não significar nada para ninguém.
Sem ter revolucionado o modelo urbanístico pelo qual, ainda hoje, São Paulo paga um alto preço, Olavo Setubal foi uma figura pública de exceção -e suas qualidades, agora que vem a notícia de seu falecimento, parecem mais preciosas do que nunca no cenário político.


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