São Paulo, sexta-feira, 28 de agosto de 2009

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A questão das armas

Necessidade de cooperar exige que os países da América do Sul sejam mais claros sobre gastos e acordos militares

OS LÍDERES dos 12 países da Unasul (União Sul-Americana de Nações) se reúnem hoje na Argentina para tentar restaurar um padrão mínimo de convivência, diante da inquietação provocada pelo anúncio de que os EUA passarão a usar sete bases militares na Colômbia e da nova rodada de acusações entre o presidente colombiano, Álvaro Uribe, e o colega da Venezuela, Hugo Chávez.
O Brasil, que exerce certa liderança regional, vê a presença americana como criadora de tensão numa "zona de paz" e cobra as devidas garantias sobre seus limites. Mas também precisa mostrar equidistância entre Uribe e Chávez.
Não existe nenhuma perspectiva de guerra entre países sul-americanos, seja pelos interesses econômicos que os ligam, seja porque é exagerada a percepção de que esteja em curso uma corrida armamentista regional.
Com o recente crescimento econômico, de fato a maioria dos governos passou a gastar mais com defesa. Mas mesmo as compras de armas feitas pela Venezuela, desde 2006, vieram depois de período de poucas aquisições, segundo o Sipri (Instituto Internacional de Pesquisas da Paz), reputada organização sueca. É preciso que a tendência se mantenha para que se possa caracterizar escalada beligerante.
O Brasil tem o maior gasto militar em termos absolutos. Mas, como proporção do PIB e em relação à população, os gastos são liderados pela Colômbia, que vive conflito interno, e pelo Chile, onde lei remanescente da ditadura transfere aos militares parte da renda do cobre. Os gastos colombianos com armas novas, por outro lado, são baixos.
Afastar o alarmismo não significa, no entanto, ignorar que há problemas, entre eles os caminhos opostos trilhados por Colômbia e Venezuela.
A Colômbia optou por aprofundar a aliança com os Estados Unidos, que tem sido decisiva no bem-sucedido combate às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). A narcoguerrilha foi empurrada para as divisas com Venezuela e Equador.
Chávez proclamou-se líder de um bloco antiamericano, apregoa acordos "estratégicos" com Irã e Rússia e é movido a retórica "bolivariana" expansionista, que o leva a ingerências nos vizinhos. Senão materialmente, pelo menos na retórica o líder venezuelano estimula as Farc, quando até mesmo o Equador vem reforçando a fronteira contra a penetração da facção criminosa.
Decerto está além do alcance da Unasul resolver questões de fundo entre Colômbia e Venezuela, mas seria útil que promovesse alguma coordenação e transparência quanto a gastos e alianças militares. A necessidade de o Brasil reequipar suas Forças Armadas não exime o governo das devidas explicações, dirigidas à própria sociedade brasileira, sobre o acordo com a França de compra de equipamentos bélicos e a nova estratégia de defesa em debate.


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