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Editoriais
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A questão das armas
Necessidade de cooperar exige que os países da América do Sul sejam mais claros sobre gastos
e acordos militares
OS LÍDERES dos 12 países
da Unasul (União Sul-Americana de Nações)
se reúnem hoje na Argentina para tentar restaurar um
padrão mínimo de convivência,
diante da inquietação provocada
pelo anúncio de que os EUA passarão a usar sete bases militares
na Colômbia e da nova rodada de
acusações entre o presidente colombiano, Álvaro Uribe, e o colega da Venezuela, Hugo Chávez.
O Brasil, que exerce certa liderança regional, vê a presença
americana como criadora de tensão numa "zona de paz" e cobra
as devidas garantias sobre seus
limites. Mas também precisa
mostrar equidistância entre Uribe e Chávez.
Não existe nenhuma perspectiva de guerra entre países sul-americanos, seja pelos interesses
econômicos que os ligam, seja
porque é exagerada a percepção
de que esteja em curso uma corrida armamentista regional.
Com o recente crescimento
econômico, de fato a maioria dos
governos passou a gastar mais
com defesa. Mas mesmo as compras de armas feitas pela Venezuela, desde 2006, vieram depois
de período de poucas aquisições,
segundo o Sipri (Instituto Internacional de Pesquisas da Paz),
reputada organização sueca. É
preciso que a tendência se mantenha para que se possa caracterizar escalada beligerante.
O Brasil tem o maior gasto militar em termos absolutos. Mas,
como proporção do PIB e em relação à população, os gastos são
liderados pela Colômbia, que vive conflito interno, e pelo Chile,
onde lei remanescente da ditadura transfere aos militares parte da renda do cobre. Os gastos
colombianos com armas novas,
por outro lado, são baixos.
Afastar o alarmismo não significa, no entanto, ignorar que há
problemas, entre eles os caminhos opostos trilhados por Colômbia e Venezuela.
A Colômbia optou por aprofundar a aliança com os Estados
Unidos, que tem sido decisiva no
bem-sucedido combate às Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). A narcoguerrilha foi empurrada para as divisas com Venezuela e Equador.
Chávez proclamou-se líder de
um bloco antiamericano, apregoa acordos "estratégicos" com
Irã e Rússia e é movido a retórica
"bolivariana" expansionista, que
o leva a ingerências nos vizinhos.
Senão materialmente, pelo menos na retórica o líder venezuelano estimula as Farc, quando até
mesmo o Equador vem reforçando a fronteira contra a penetração da facção criminosa.
Decerto está além do alcance
da Unasul resolver questões de
fundo entre Colômbia e Venezuela, mas seria útil que promovesse alguma coordenação e
transparência quanto a gastos e
alianças militares. A necessidade
de o Brasil reequipar suas Forças
Armadas não exime o governo
das devidas explicações, dirigidas à própria sociedade brasileira, sobre o acordo com a França
de compra de equipamentos bélicos e a nova estratégia de defesa
em debate.
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