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FERNANDO GABEIRA
Bola dividida
RIO DE JANEIRO - Alguma coisa
se mexe na política de drogas da
América Latina. O México descriminou o porte de drogas para consumo pessoal. E o México é a grande preocupação dos EUA no momento. Os cartéis deixaram de exportar apenas droga para exportar
também o crime organizado.
Logo em seguida, a Argentina
descriminou o uso de maconha. A
Suprema Corte exortou o governo a
combater o tráfico de drogas e, simultaneamente, fazer campanhas
que enfraqueçam o consumo.
Os observadores americanos já
tinham detectado alguma coisa.
Três ex-presidentes, Fernando
Henrique, César Gaviria, Ernesto
Zedillo, expressaram uma posição
por mudanças na política de drogas.
A posição deles é ampla, mas o que
ficou foi a defesa da descriminação
da maconha.
Imagino a dificuldade de processar a última visita de Lula à Bolívia.
Dois presidentes usando colar de
folha de coca. Não creio que Lula tenha avaliado todo esse contexto, ou
que, na verdade, dê alguma importância a esse contexto.
Por influência de Chávez, discutem-se muito as bases americanas
na Colômbia. Não se trata apenas
de deter as Farc, mas o tráfico que
as mantém vivas.
Uma conferência interamericana
sobre política de drogas seria mais
produtiva do que todo esse carnaval
sobre tropa americana. Mas o passado na América Latina é desses
que sobrevivem sentados na cadeira do presente.
O debate sobre drogas sempre se
baseou na ideia de legalizá-las ou
não. Nesse nível de abstração, as
pessoas sentem-se como se fossem
donas da verdade.
Se o eixo se deslocasse, os defensores das duas teses teriam que se
desdobrar para explicar como realizá-las. A repressão é um fracasso.
Os defensores da legalização apenas a defendem. Há um longo caminho. Obama tem energia para mais
uma bola dividida?
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