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Editoriais
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Inovação ameaçada
Na década de 1970, o Brasil
criou o carro movido a álcool -e
passados poucos anos, matou-o,
pela falta do novo combustível.
Poucos anos atrás, o país logrou
outro advento importante, o carro
flex, movido tanto a álcool como a
gasolina. Eis que a sobrevivência
desta inovação já está em risco,
novamente por problemas na
oferta de álcool.
A curto prazo, a disponibilidade
do produto flutua muito, assim
como o seu preço, que neste ano
manteve-se por bom tempo em nível que induz o consumidor a preferir a gasolina. Por seu turno, a
indefinição das regras que irão reger o mercado a longo prazo é um
elemento que inibe o investimento na produção de cana-de-açúcar
e na construção de novas usinas.
A variação drástica na oferta de
álcool está ligada não apenas a sazonalidades, como qualquer produção agrícola, mas também ao
fato de que as usinas contam com
a opção de, a depender dos preços, transformar a cana em açúcar, em vez do combustível.
Além disso, com o preço interno
da gasolina na prática congelado
pelo governo e com estímulos
crescentes a produtos verdes no
mercado americano, muitas vezes
é mais rentável exportar álcool para lá do que vender no mercado
brasileiro.
Nessas circunstâncias, é óbvia a
necessidade de estoques para regularizar a oferta de álcool e amenizar as flutuações do seu preço.
Não obstante, só agora as autoridades parecem dispostas a atacar o problema. A Agência Nacional do Petróleo (ANP), que desde
abril tem a incumbência de regular também o mercado do etanol,
colocou em consulta pública na
terça-feira uma minuta de resolução que prevê, entre outros pontos, que produtores de álcool terão
de ter capacidade de estocar montante significativo do produto.
A ideia parece promissora, desde que não resulte em um ônus
adicional a desestimular investimentos no setor. Seria desejável,
por isso, que as autoridades avançassem na definição de vários parâmetros importantes para os participantes do mercado do álcool.
É preciso definir, por exemplo,
quais serão os mecanismos de formação de preços no setor -o que
significa deixar clara a relação entre os valores da gasolina e do etanol. A porcentagem de álcool que
entra como aditivo na gasolina
não pode mais ficar à mercê de
mudanças arbitrárias do governo.
Os instrumentos para financiar a
produção e os investimentos também devem ser fixados e mantidos
ao longo do tempo.
Regras equilibradas e estáveis
para o mercado de etanol são indispensáveis para que o carro flex
tenha vida longa.
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