São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2011

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Editoriais

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Inovação ameaçada

Na década de 1970, o Brasil criou o carro movido a álcool -e passados poucos anos, matou-o, pela falta do novo combustível. Poucos anos atrás, o país logrou outro advento importante, o carro flex, movido tanto a álcool como a gasolina. Eis que a sobrevivência desta inovação já está em risco, novamente por problemas na oferta de álcool.
A curto prazo, a disponibilidade do produto flutua muito, assim como o seu preço, que neste ano manteve-se por bom tempo em nível que induz o consumidor a preferir a gasolina. Por seu turno, a indefinição das regras que irão reger o mercado a longo prazo é um elemento que inibe o investimento na produção de cana-de-açúcar e na construção de novas usinas.
A variação drástica na oferta de álcool está ligada não apenas a sazonalidades, como qualquer produção agrícola, mas também ao fato de que as usinas contam com a opção de, a depender dos preços, transformar a cana em açúcar, em vez do combustível.
Além disso, com o preço interno da gasolina na prática congelado pelo governo e com estímulos crescentes a produtos verdes no mercado americano, muitas vezes é mais rentável exportar álcool para lá do que vender no mercado brasileiro.
Nessas circunstâncias, é óbvia a necessidade de estoques para regularizar a oferta de álcool e amenizar as flutuações do seu preço.
Não obstante, só agora as autoridades parecem dispostas a atacar o problema. A Agência Nacional do Petróleo (ANP), que desde abril tem a incumbência de regular também o mercado do etanol, colocou em consulta pública na terça-feira uma minuta de resolução que prevê, entre outros pontos, que produtores de álcool terão de ter capacidade de estocar montante significativo do produto.
A ideia parece promissora, desde que não resulte em um ônus adicional a desestimular investimentos no setor. Seria desejável, por isso, que as autoridades avançassem na definição de vários parâmetros importantes para os participantes do mercado do álcool.
É preciso definir, por exemplo, quais serão os mecanismos de formação de preços no setor -o que significa deixar clara a relação entre os valores da gasolina e do etanol. A porcentagem de álcool que entra como aditivo na gasolina não pode mais ficar à mercê de mudanças arbitrárias do governo. Os instrumentos para financiar a produção e os investimentos também devem ser fixados e mantidos ao longo do tempo.
Regras equilibradas e estáveis para o mercado de etanol são indispensáveis para que o carro flex tenha vida longa.


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