São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 2011

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RUY CASTRO

Rebeldes em família

RIO DE JANEIRO - No dia do heavy metal no Rock in Rio, pais, filhos, casais e famílias inteiras, algumas comandadas pelo avô -todos de preto, cabelão espetado, colete tacheado e botas-, entregaram-se à zoeira juntos num clima de amor. A provar que o rock é o projeto mais bem-sucedido do planeta. Que o veredicto de seus pioneiros nos anos 50 se confirmou.
Convenci-me disto ao assistir no fim de semana a um, digamos, clássico do gênero: "Ao Balanço das Horas" ("Rock Around the Clock"), de 1956, com Bill Haley e Seus Cometas. Na época, o filme foi pretexto para quebra-quebra de cinemas pelos próprios jovens -no Rio, o Palácio, na Cinelândia; em São Paulo, o Regência, na Augusta. Não se sabe por que faziam isto, já que os cinemas estavam exibindo o filme que eles queriam ver.
A mensagem de "Ao Balanço das Horas", pelo radialista Alan Freed, era simples: o rock and roll era a nova música da juventude; esta tinha direito a dançar ao seu próprio ritmo, assim como seus pais haviam feito em relação à geração anterior; donde, apesar do volume das guitarras, ninguém precisava se preocupar. "Gostar de rock não torna esses jovens diferentes de seus pais", dizia Freed.
E o que se via na tela já mostrava isto: músicos de smoking prateado, bigodinho e Gumex tocando para moças de casaquinho de ban-lon e anáguas e rapazes de terno e gravata, com o cós das calças quase debaixo das axilas. Nada de assustador. Nem a música era nova: o mesmo rhythm and blues dos negros, com algum sotaque country. Quanto à dança, era o velho jitterbug do tempo das big bands.
A diferença é que, em 1956, os filhos tinham de vencer uma certa oposição dos pais. Hoje, três gerações ouvem a mesma música e brincam de rebeldes em família.


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