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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A festa dos especuladores
HÁ COISAS que sabemos,
mas que só nos abalam
quando chega a frieza dos
números.
Reportagem publicada na Folha
dá conta de que os estrangeiros
que compraram papéis do governo
em fevereiro de 2006 tiveram um
ganho de 90%. Quase dobraram o
seu patrimônio ("Título público
rende o dobro a estrangeiro", Dinheiro, pág. B1, 22/10/07).
Nesse período, (1) os juros pagos
aos aplicadores ficaram nas nuvens; (2) o governo os isentou do
Imposto de Renda; (3) o real se valorizou de forma expressiva.
Não conheço negócio legal que
consiga gerar 90% de lucro em
pouco mais de um ano.
Logo que foi aprovada a isenção
do Imposto de Renda, comentei
nesta coluna que o expediente iria
provocar uma enxurrada de dólares -ávidos por ganharem juros altíssimos, sem despesas.
Quem ficou na especulação teve
todas essas benesses. Os impostos
arrasadores ficaram para os brasileiros que produzem e para os trabalhadores que suam suas camisas
diariamente. Os juros mais altos do
mundo foram pagos pelas empresas e consumidores do Brasil. A
precariedade da infra-estrutura, da
educação, da saúde, da segurança e
da previdência teve de ser amargada por quem dá duro na economia
real.
O aplicador brasileiro que mandou seu dinheiro para fora e voltou
para dar uma "bicicletada" no Brasil, também ganhou os 90%, porque re-entrou como capital estrangeiro.
Foi a festa dos especuladores.
Com inflação ou sem inflação, eles
sempre fazem rodar a seu favor a
nefasta ciranda financeira.
Não tenho nada contra o capital
estrangeiro. Ao contrário, precisamos dele. Mas o que nos interessa é
o capital que se disponha a correr
os riscos da produção, construindo
fábricas, montando fazendas, expandindo serviços, fazendo escolas
e, com isso, contribuindo para a geração de empregos e arrecadação
de impostos.
Ora, esse pessoal começa com a
isenção de impostos, investe em títulos que têm o aval do governo,
que podem ser negociados a qualquer momento, o que lhes permite
sair do Brasil no primeiro soluço da
nossa economia. É muita miopia
governamental.
Por mais sofisticadas que sejam
as explicações, é inaceitável a ausência de políticas que estimulem o
investimento estrangeiro na produção nacional. Até quando vai
continuar o favoritismo para quem
mais especula do que produz?
Os brasileiros precisam de empregos, atenção às crianças, saúde
bem cuidada e segurança individual. De que forma os especuladores colaboram para esses objetivos? Está na hora de virar esse jogo.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.
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